Por Carlos Motta, em Jornal GGN –
No Estadão das antigas foram várias as ocasiões em que, na minha mesa, vi se aproximar, como quem não queria nada, um dos jornalistas mais emblemáticos daquela casa, Antonio Carvalho Mendes, o Toninho Boa Morte, durante décadas responsável pela seção “Falecimentos” do jornal.
Pois bem, o Toninho chegava, me encarava com um sorrisinho maroto e dizia:
– Mestre, está uma boataria danada!
É claro que ele esperava que eu lhe perguntasse algo como:
– Mas Toninho, o que está acontecendo?
E lá vinha ele com uma velha história, na verdade um velho desejo:
– Parece que o Turco está voltando…
Explico.
Turco era o apelido dado a Miguel Jorge, antecessor de Augusto Nunes na função de diretor de redação do jornal.
Toninho odiava Nunes porque uma de suas primeiras providências depois de assumir o cargo foi acabar com a coluna de cinofilia, semanal, que o editor das notas fúnebres perpetrava, uma vez por semana.
O Turco, depois que saiu do Estadão, fez carreira como executivo (Autolatina, Santander) e foi até ministro de Lula (Comércio Exterior).
O desejo do Toninho Boa Morte de que ele retornasse ao jornal no lugar de Nunes nunca se concretizou, apesar de toda a boataria que espalhava.
No Brasil de hoje há muita muita fofoca, muita especulação, muita mentira sendo vendida como verdade.
Falam de tudo, desde a volta dos militares para acabar com a bagunça, até que o delator que delatou a delação tem provas contundentes de que sem ele a delação seria apenas mais uma entre tantas.
É que, como naquele Estadão das antigas, muita gente está de saco cheio. Cá, como lá, o pessoal que tomou conta do pedaço chegou prometendo rios de felicidade para todos, mas entregou, até agora, um oceano de desesperança.
E se o Toninho Boa Morte ainda vivesse e não fosse um lacerdista empedernido, talvez estivesse rodeando agora as mesas dos colegas, a dizer:
– Mestre, está uma boataria danada. Parece que estão querendo que o Barbudo volte…