Meu candidato sorriu e disse: sem problema, vamos pra prorrogação e vamos vencer

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Por José Carlos Asbeg, jornalista e cineasta

Estou intrigado com tanta gente de ressaca, desanimada, triste, com o resultado das eleições de ontem. Respeito o sentimento de todo mundo, mas quero deixar bem claro que não me sinto nem um pouco derrotado. Meu candidato venceu. Lula venceu. E não foi por pouco. Foram 6.168.367 votos. Vou repetir: seis milhões cento e sessenta e oito mil e quatrocentos e sessenta e sete votos.




O cara mandou bem demais. Encarou o dono de todo o dinheiro público do Brasil e sua máquina parlamentar que cometeu a maior ilegalidade ao liberar auxílio emergencial com data de validade e ainda meteu a mão no dinheiro com o tal orçamento secreto.

A midiazona não deu um pio. Não teve nenhum cano atrás do casal platinado jorrando dinheiro de corrupção, a maior de toda nossa história. E o cara ganhou o primeiro turno. Se fosse o Lula a distribuir tal auxílio seria corrupção, compra de votos, cassação da chapa etc etc.

O cara encarou jornalões, televizonas, redes internéticas cúmplices das mais deslavadas mentiras, debates hipócritas, candidatos laranjas, falsos padres, analistas que torceram loucamente para o milagre do aparecimento da terceira via e por detrás das bocas cheias de batom e gravatas alinhadas, em suas enfadonhas e maniqueístas perorações, cruzavam os dedos para haver segundo turno.

O cara encarou um ególatra que abriu mão daquilo que mais dignifica um ser humano, o caráter, e que passou meses a propagar as mesmas mentiras que levaram o juiz ladrão a prender o maior líder político da história brasileira por convicções e suposições, sem uma prova concreta sequer.

Um oponente desleal, que obedecia seu patrão a aplicar chutes no saco, dedo no olho, pendurado como um papagaio roto no ombro do fascista que o fascina.

O cara encarou a elite branca, que vai à missa para dar esmola a pobre na porta da igreja, mas que não admite que o país tenha educação de qualidade e oportunidades iguais para brasileiras e brasileiros.

Elite branca que não abre mão de seus mesquinhos privilégios, que obrigam milhões de concidadãos a passar fome e que os trata como preguiçosos, vagabundos, que não querem trabalhar, tudo conforme expressão do chefe fascista maior.

Elite branca que explora suas trabalhadoras domésticas e que entrega seu bem mais precioso, o próprio filho, nas mãos de uma babá, mas não quer que ela sonhe em um dia ir à Disneilândia.

Elite branca bronca, escravocrata, cafona, violenta, sem empatia pelo sofrimento dos mais pobres, que se esconde atrás de Deus para praticar as piores maldades.

O cara encarou ameaças de golpes, vocalizadas pelo escroto maior, pelos engalanados puxa-sacos que não querem perder a boquinha.

Ameaças reverberadas também pela alta casta militar, que se acha dona, tutora do país, pelo simples fato de deter força bélica, sempre, historicamente, aplicada contra nós mesmos, quando deveria estar ocupada em defender nossa soberania.

Alta casta adoradora de remédios que aumentem a pressão peniana e de próteses que lhes substituam os bilaus caídos.

Aliás, aqui um parêntesis. Quando nos governos do PT se nomeava alguém para cargo público, era aparelhamento. A midiazona jamais se referiu como aparelhamento ao emprego de milhares de milicos nos órgãos federais.

O cara enfrentou tudo isso e fez 57 milhões de votos, ganhou o primeiro turno e parte na frente para a decisão final. O cara é aquele que o Obama disse que é o cara.

Quem sou eu pra ficar desanimado. É claro que depois de ouvir Caetano cantar que amanhã será um lindo dia e não foi, bate um aperto no peito. Meu candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, sorriu e disse: sem problema, vamos pra prorrogação e vamos vencer. Como eu posso me sentir derrotado? Nem pensar. Tô firme olhando o futuro no sorriso de minha neta.

Ps1. Nem vou falar do maior roubo do século, o do juiz ladrão que prendeu o líder do campeonato antes do último jogo pra poder jogar no time que ganhou roubado.

ps2. Aliás essa é uma situação que encerra uma metáfora sobre o caráter nacional. Lembro de muito torcedor dizendo que achava lindo demais ver seu time vencer com um gol roubado, de mão, aos 45 minutos do segundo tempo. É a cara do Brasil verde amarelo.

Foto: Ricardo Stukert

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