Meu padrinho de vida e de profissão

Compartilhe:

Por Graça Lago, jornalista, filha de Mario  Lago, no Facebook – 

Perdi, hoje, o padrinho de boa parte da minha vida e formação, o jornalista Zezé Cordeiro, meu tio José Henriques Cordeiro, que partiu aos 90 anos. Foi da Imprensa Popular, Diário Carioca, Última Hora, Folha,  Globo Repórter …um monte.

Pela ordem cronológica, Zezé foi meu padrinho de batismo (apesar de ateu radicalíssimo, cedeu aos apelos de minha mãe, Zeli, sua irmã mais velha), de samba e boemia (com ele, ainda na adolescência, conheci o ZiCartola, em noite  memorável) e, finalmente, foi o meu padrinho de profissão e primeiro chefe de reportagem, na sucursal da Folha de s. Paulo, lá pelos idos de 1969.




Duríssimo, na redação, me ensinou tudo da profissão. Fora da redação, era um companheiraço nas rodas boêmias, amigo de Nelson Cavaquinho, Ze Ketti e muuuuitos outros. Adorava o Beco da Fome e todos os botecos que aprendi a amar. Era do estilo dos velhos malandros e nunca perdeu a levada.

Não era de afagos, esse negócio de abraços e beijos (os Cordeiro são assim), mas sempre lançava redes protetoras. Foi o melhor amigo da minha mãe e do meu pai; as histórias deles são antológicas. Foi, pasmem, amigaço da minha avó paterna, Chiquinha, amada católica radicalmente  conservadora e preconceituosa, mas que se derretia com a prosa de Zezé  (vovó também adorava conversar com, pasmem, o Marighela, único comunista que elogiava, além de papai, é óbvio).

Uma das melhores histórias de Zezé, talvez, seja a da sua amizade com o Igor (acho que o nome era esse), adido cultural da embaixada da então União Soviética, que ele conheceu em Moscou e com quem varou boas madrugadas cariocas. Zezé só falava português, Igor só falava russo; os dois batiam longos papos, às gargalhadas, cada um no seu entendimento.

Com Zezé, desde criança,  aprendi sambas malandros  que ele cantava feliz quando chegava lá em casa quase de manhã, antes de deixar um bilhete espetado no espelho do banheiro, pedindo pra ser acordado, impreterivelmente, às duas ou três da tarde. Um grudou na minha memória, acho que foi o primeiro que decorei e jamais esqueci…

“Não tem razão/ quem assim diz/ que o malandro não casa/ que o malandro não é feliz/ quero ser feliz, construir um lar/ mas o destino não quis…”

Quis. Casou com Vanda, minha irmã de criação, que chegou já adolescente, e de escolha, porque irmãs, mesmo, e prima dele, uma  caninana na proteção, apoio e cuidados desse cara, que deu a ele amor, atividade, diversão e alegria até o quanto e mais que pode.

“..teremos crianças…” Tiveram – Wladimir, Elena (outra caninana), Carlos e Edir, netos e a caminho de um bisneto ou bisneta.

Não era santo (“santidade é castração”, já dizia meu pai), era um homem, uma pessoa, meu padrinho, que me chamava de Melri, sei lá porque.

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Tags

Compartilhe:

Categorias