Os dois faziam parte de um grupo de conselheiros radicais que incitava o então presidente; o comando militar foi contra
POR JULINHO BITTENCOURT, compartilhado da Revista Fórum
A ex-primeira-dama Michelle e um dos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), faziam parte de um grupo de conselheiros radicais que não aceitava de forma alguma o resultado das eleições do ano passado e incitava o então presidente da República Jair Bolsonaro (PL) a dar um golpe de Estado.
O relato é do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a pessoa que passou seus quatro anos de mandato mais próxima do ex-chefe. O grupo, segundo Cid, dizia que Bolsonaro tinha apoio da população e dos atiradores esportivos, conhecidos como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), para uma tentativa de golpe.
Cid conta ainda que, no lado oposto do irmão e da esposa do pai, o senador Flávio Bolsonaro (PL) fazia parte de um grupo moderado composto pela ala política do governo que tentava convencer Bolsonaro a se pronunciar publicamente sobre o resultado da eleição para pedir que os manifestantes golpistas deixassem as ruas e voltassem para suas casas.
A esperança de fraudes nas urnas
O ex-ajudante de ordens contou também que Bolsonaro não queria desmobilizar os manifestantes golpistas que estavam acampados na porta dos quartéis. Ele acreditava que seria encontrado algum indício de fraude nas urnas, e que isso anularia o resultado das eleições. Nunca foi encontrada nenhuma prova de fraudes.
Três fontes que acompanham o assunto confirmaram à coluna de Aguirre Talento, do UOL, o depoimento de Cid. O material da delação premiada, que está sob sigilo, está sob análise da equipe do subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, na PGR (Procuradoria-Geral da República).
Carlos Frederico afirmou em entrevista recente que, até o momento, Cid não apresentou provas de corroboração dos seus relatos. Perguntado pelo UOL sobre os caminhos para corroborar o relato, Carlos Frederico afirmou: “Estamos buscando provas de acordo com o contexto narrado”.
Michele e Eduardo Bolsonaro negam, é claro
A defesa de Jair e Michelle Bolsonaro classificou as acusações de “absurdas” e disse que não são amparadas em elementos de prova.
“As afirmações feitas por supostas fontes são absurdas e sem qualquer amparo na verdade e, via de efeito, em elementos de prova. Causa, a um só tempo, espécie e preocupação à defesa do ex-presidente Bolsonaro que tais falas surjam nestes termos e contrariem frontalmente as recentíssimas — ditas e reditas —, declarações do subprocurador da República, dr. Carlos Frederico, indicando que as declarações prestadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, a título de colaboração premiada, não apontavam qualquer elemento que pudesse implicar o ex-presidente nos fatos em apuração”, afirmou o advogado Paulo Cunha Bueno.
Bueno disse também que Bolsonaro ou seus familiares “jamais estiveram conectados a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país”.
O deputado Eduardo Bolsonaro segue na mesma linha e acrescenta, em nota, que a delação já foi classificada como “fraca, inconsistente e sem elementos de provas” pelo subprocurador Carlos Frederico. “Querer envolver meu nome nessa narrativa não passa de fantasia, devaneio. Se a oposição queria dar um golpe, pergunta-se, então, por que o ministro da Justiça tudo fez para que as imagens de seu ministério não se tornassem públicas?”, afirmou.