Mídia corporativa adota gramática na guerra para naturalizar barbárie de Israel e estigmatizar adversários

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‘A mídia tradicional mata com disparos contínuos de estigmatização e silenciamento – é cúmplice e panfleto da tragédia’, escreve o colunista Tiago Barbosa

Por Tiago Barbosa, compartilhado de Brasil 247




Benjamin Netanyahu e Faixa de Gaza após ataque de Israel
Benjamin Netanyahu e Faixa de Gaza após ataque de Israel (Foto: ABR | Reprodução/AlJazeera)

A mídia corporativa pariu uma gramática flexível, seletiva e desonesta para fazer da guerra arma ideológica de submissão imperialista – à custa, claro, da realidade e das vítimas.

A adesão acrítica à versão ocidental impregna o noticiário com malabarismo vocabular para naturalizar a barbárie sinonista e criminalizar de Gaza ao Irã.

A palavra “invasão” usada para definir a ação da Rússia na Ucrânia vira “incursão militar” no ataque de Israel ao Líbano.

O “direito de se defender” invocado por Israel para destruir Gaza se torna “terrorismo” na resposta do Irã à ofensiva de Israel.

Violência contra palestinos presos em Israel é “interrogatório”. Tratamento dispensado a israelenses detidos em Gaza é “tortura”.

Mísseis e bombas lançados por Israel atingem “alvos específicos”. Mísseis e bombas endereçados a Israel são disparados “contra o país”.

Israel luta sempre contra “grupos terroristas” Hamas e Hezbollah. Irã e Palestina atacam sempre “o estado judeu”.

Vítimas israelenses têm família, identidade e fazem apelos dramáticos nos meios de comunicação. Vítimas palestinas, libanesas e iranianas são contadas, via de regra, sem voz e à base de números.

As estatísticas sobre Israel são consideradas incontestáveis e atribuídas ao governo. As informações sobre Gaza, creditadas ao “ministério da Saúde do Hamas”, mantidas sob suspeita e seguidas de “não confirmadas”.

A menção a qualquer violência cometida por Israel é precedida ou sucedida pela lembrança do ataque ao país em 7 de outubro. A ofensiva dos outros, nada: é tratada como rotineira e parte da interação de países ou povos projetados como agressivos.

As mortes de soldados israelenses são marcadas por fotos, rostos, depoimentos das famílias e destaque do noticiário. Os óbitos de combatentes palestinos são “perdas terroristas”.

Israel “elimina” alvo terrorista quando ataca. Palestinos, iranianos e libaneses matam “seres humanos, inocentes”.

Inimigo de Israel vai “preso”. De palestino, “sequestrado”.

Ação israelense é naturalizada após consulta a associações, organizações e institutos em defesa do povo judeu.

Ação palestina, iraniana, libanesa é criminalizada por associações, organizações e institutos em defesa do povo judeu.

A ausência de representatividade é inerente à abordagem dos desafetos do regime sionista.

A primeira vítima da cobertura de guerra com envolvimento de protegidos do imperialismo não é (só) a verdade, como prega o clichê.

É a condição humana, a dignidade, o respeito aos povos oprimidos. É a voz ocultada para perpetuar barbáries, extermínios, genocídios.

A mídia mata com disparos contínuos de estigmatização e silenciamento – é cúmplice e panfleto da tragédia.

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