O governo argentino liderado por Javier Milei decretou um aumento do salário mínimo de 9,3%, valor consideravelmente inferior à inflação.
Por Telesur – Caracas, compartilhado de Construir Resistência
O valor não é suficiente para cobrir a cesta básica de que uma família necessita para evitar passar fome.
Em 26 de dezembro, o governo argentino publicou um decreto que fixa o salário mínimo vital e móvel (SMVM) em 296.832 pesos para março de 2025, com um aumento de 9,3% escalonado em quatro parcelas entre dezembro e março.
A medida unilateral tomada pelo Executivo ocorreu após o fracasso das negociações no Conselho Salarial que reúne representantes sindicais e empresários com a mediação do Estado.
As câmaras empresariais propuseram um aumento de 8,8%, enquanto os sindicatos exigiram que o SMVM fosse aumentado acima de um milhão de pesos (aproximadamente 800 dólares).
Sem um acordo tripartido, o governo tomou a decisão sem consulta de estabelecer um aumento que representa o nível mais baixo em duas décadas.
Segundo estimativas oficiais do Banco Central da República Argentina (BCRA), esse montante mal cobrirá 60,9% da cesta básica de março, indicador que define o limiar de indigência.
Deterioração do poder de compra
Dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC) reflectem que o salário mínimo perdeu 58% do seu poder de compra desde 2017.
Se naquele ano o SMVM bastava para adquirir 411 litros de leite, em novembro de 2024 só permitiu a compra de 190.
Segundo estudo da CTA Autônoma, em termos reais, o SMVM sofreu a maior queda desde as hiperinflações de final da década de 1990, com uma perda média de 29,3% em 2024.
Luis Campos, investigador do CTA, destacou na sua análise que esta situação não afeta apenas os trabalhadores que recebem o salário mínimo, mas também fragiliza o piso salarial de todo o mercado de trabalho.
“Destruir o SMVM significa tirar a palavra dos trabalhadores de menor renda”, afirmou em suas redes sociais.
Críticas dos sindicatos e posição oficial
A Confederação Geral do Trabalho (CGT) e as duas CTA emitiram comunicados condenando a medida.
Para a CGT, o governo tem demonstrado “falta de respeito institucional” ao evitar o consenso no Conselho Salarial e ao favorecer os interesses empresariais.
Por seu lado, a CTA descreveu o ajustamento como “uma conspiração dos setores empresariais e do governo para reduzir os salários e aumentar os lucros das empresas”