Por Conceição Lemes, Viomundo –
Como ficou a Escola Estadual Coronel Sampaio, em Osasco, após ser invadida por homens encapuzados e armados
Sorocaba, 27 de novembro, sexta-feira.
Oficiais de Justiça tentam, sem sucesso, entregar a notificação de reintegração de posse aos estudantes, que ocupam 21 escolas contra a“reorganização” do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Nas 48 horas seguintes, duas são invadidas por pessoas encapuzadas e armadas, que cortam a luz elétrica, ameaçam os alunos, roubam equipamentos e destroem o patrimônio público de ambas, quebrando vidros das janelas, portas, carteiras, máquinas.
Na madrugada de sábado, 28, isso acontece na Escola Estadual Mário Guilherme Notari, no Jardim Luciana Maria. Na noite de sábado, na EE Guiomar Camolesi Souza, no Jardim Maria Eugênia. À força, os estudantes desocupam as duas escolas.
O site Sorocaba de Verdade denuncia:
Mais grave do que isso é o motivo que levou os estudantes a deixarem as escolas estaduais Mario Guilherme Notari, no Jardim Luciana Maria, e Guiomar Camolesi Souza, no Jardim Maria Eugênia: invasão da escola por bandidos que nada têm a ver com o movimento de resistência ao fechamento de escolas por parte do Governo do Estado e o constrangimento a que foram submetidos por profissionais da educação e “lideranças” dos bairros. Outras 19 escolas seguem ocupadas pelos alunos
Osasco, 30 de novembro, segunda-feira.
O modus operandi utilizado em Sorocaba é aplicado na Escola Estadual Coronel Sampaio, em Osasco, na Grande São Paulo.
O site O Mal Educado denuncia:
“ATAQUE À E.E. CORONEL SAMPAIO EM OSASCO!! ESSA É A ESTRATÉGIA DE “GUERRA” DO GOVERNO?
Logo após o Governo declarar que iniciaria uma “guerra” contra o movimento dos estudantes, começam ataques violentos contra as ocupações mais afastadas das câmeras da grande mídia. Em Osasco, a E.E. Coronel Sampaio foi invadida e destruída por pessoas estranhas. A Polícia Militar estava no local e jogou bombas nos estudantes, mas não impediu que os invasores ateassem fogo no colégio.
(…)
O que aconteceu? Na manhã dessa segunda-feira, a Diretoria de Ensino de Osasco convocou a comunidade escolar para uma reunião para incentivar a desocupação da E.E. Coronel Sampaio. Logo em seguida, à tarde, um grupo de pessoas de fora invadiu a ocupação e começou a quebrar toda a escola, roubando muitos materiais. Aterrorizados, muitos dos estudantes que estavam ocupando o prédio saíram. Logo em seguida chegou a PM jogando bombas dentro da escola.
Os estudantes que permaneceram tentavam se reunir no pátio para decidir o que fazer, quando a escola foi novamente invadida pelos fundos e incendiada – e a PM estava presente o tempo todo! Tentando ajudar os outros alunos, dois estudantes ficaram feridos, um cortado pelos pedaços de vidro no chão, outro que passou mal devido ao medo e a fumaça. Um estudante conseguiu recuperar um tablet que fora roubado e trouxe de volta à escola.
São Paulo, 1º dezembro, terça-feira.
Sai no Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOSP) o decreto 61.671/2015, do governador Geraldo Alckmin, oficializando a “reorganização” escolar, que fechará 94 escolas e desestruturará outras 782. Curiosamente não traz a assinatura do secretário da Educação, Herman Voorwald, nem a lista das escolas atingidas.
Ao mesmo tempo, a Secretaria Estadual de Educação põe escancaradamente em prática outra estratégia de “guerra” do governo tucano contra os estudantes.
Ela foi acertada no domingo 29, na reunião reservada do chefe de gabinete de Voorwald, Fernando Padula Novaes, com 40 dirigentes de ensino do Estado, e que vazou. “A gente vai brigar até o fim e vamos ganhar e vamos desmoralizar [quem está lutando contra a reorganização]”, Padula arrotou.
Ao arrepio da lei, inclusive contrariando decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (T-SP), manda a PM invadir escolas. Além disso, para mobilizar a comunidade espalha mentiras. Por exemplo, a de que os alunos irão perder o ano. Chega ao cúmulo de orientar pais e mães a fazerem matrícula em escolas ocupadas, para gerar tensão.
O alvo “inaugural” desta outra estrategia é a Escola Estadual Maria, na Bela Vista, zona central da capital.
Jornalistas Livres acompanhou toda ação desde cedo:
* No início da manhã, Fernando Padula foi pessoalmente à Maria José pressionar os estudantes. Ridícula a sua “performance” como tiozão legal, compreensivo (veja no vídeo abaixo). Mais falsa que nota de R$ 3. Não convenceu.
*Em seguida, um bando, tendo à frente o diretor da escola, Vladimir Teofilo Fragnan Filho, arrombou o cadeado do portão do colégio e invadiu o prédio, que vem sendo mantido e cuidado pelos alunos.
* À porta, a Polícia Militar (PM) assistiu toda essa movimentação, como se não estivesse acontecendo nada. O spray de pimenta ficou apontado só para os alunos.
* Na sequência, orquestrados pela diretoria de ensino na sua chamada “guerra” contra as escolas ocupadas, a Polícia Militar e um bando de civis invade a escola e expulsa os jornalistas (veja no segundo vídeo abaixo). A ação é truculenta. Na tentativa de desocupar, policiais espirram spray de pimenta em crianças e adolescentes.
* E, aí, a covardia das covardias. O diretor da Escola Estadual Maria José, Vladimir Teofilo Fragnan Filho, deu um tapa rosto de uma estudante de 16 anos que protestava contra a “reorganização escolar”. Um colega foi socorrê-la e acabou espancado por policiais que escoltavam o diretor. Acompanhados da mãe da menina, os dois jovens fizeram Boletim de Ocorrência (BO) na 5ª DP, para denunciar diretor e PMs por lesão corporal.
Diante da leitura do BO e das imagens destes vídeos, a pergunta óbvia: Se o governo Alckmin agiu com tamanha truculência, em plena região central da capital, o que não será capaz de fazer nas escolas das “quebradas”?
CONEXÃO SOROCABA-OSASCO-BELA VISTA SP
A esta altura, outras perguntas são inevitáveis:
– O que aconteceu em Sorocaba tem a ver com o que ocorreu em Osasco e Bela Vista, na capital paulista?
A resposta é sim, claro.
– O que une os ataques de grupos armados a escolas ocupadas em Sorocaba e Osasco?
Como o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) vetou a reintegração de posse das escolas ocupadas e o uso da PM nessas ações, aparentemente a “solução” foi criar milícias de cunho fascista para expulsar a garotada. Há indícios de digitais tucanas nelas.
Vejamos.
1. Na semana passada, o Movimento Ação Popular, ligado à juventude do PSDB, criou no Facebook a página Devolve a Minha Escola, cujo objetivo é combater as ocupações nos colégios. Administra-a Roney Glauber (na foto ao lado, com Alckmin). Eletrabalha no Diretório do PSDB em Guarulhos e preside Juventude tucana Guarulhos.
Além da página no Facebook, integrantes do Movimento da Ação Popular têm visitado escolas ocupadas para pressionar os alunos, revela a revista Fórum. Quando percebem que não vão conseguir, fazem ameaças. “Tudo bem, se não vai sair por bem, vai sair por mal”, disseram a uma manifestante da capital.
2. Tudo indica que aí eles já iniciavam os preparativos para a “guerra” contra as escolas ocupadas, deflagrada por Fernando Padula, chefe de gabinete do secretário da Educação de São Paulo,em reunião reservada, cujo áudio vazou.
3. Coincidentemente, nessa reunião do domingo, Padula apresentou de forma solene um militante do Movimento Ação Popular, que frequentemente comparece nas manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma. Seria o próprio Roney? Como apenas o áudio vazou, não dá para ter certeza.
4.O fato é que o movimento fascista contra as escolas ocupadas se intensificou na já famosa reunião de domingo, quando foram divulgadas por Fernando Padula e Valéria Volpato as estratégias do governo Alckmin contra os movimento dos estudantes.
Ouvir Padula contar que as placas de carros estacionados próximos às escolas estavam sendo fotografadas para saber se eram de integrantes da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo) deu náuseas. Me fez voltar aos tempos da ditadura militar, quando professores, alunos, funcionários eram vigiados.
5. Curiosamente, o chefe de gabinete do Secretário da Educação (ao lado, de terno) chegou à Escola Estadual Coronel Sampaio, em Osasco, logo após o ataque armado de destruiu o colégio. Teria sabido antes?
No caso da Maria José, a PM e um bando de civis (acompanhava o diretor) partiram para cima da garotada pouco depois de Fernando Padula ir embora. Teria partido dele a ordem para a PM invadir a escola?
6. Estranhamente, tanto em Osasco quanto na Bela Vista a Polícia Militar do governo Alckmin assistiu passivamente às agressões aos estudantes e às escolas e nada fez. Pelo contrário. Na escola da Bela Vista, os estudantes levaram spray de pimenta no rosto. Seriam ordens superiores?
CONLUIO CRIMINOSO DA GRANDE MÍDIA COM O GOVERNO PAULISTA
Como era de esperar, os telejornais desde ontem cedo apontavam para os alunos como responsáveis pelo vandalismo, livrando a cara do governo Alckmin.
No caso de TV Globo, isso começou no Bom Dia São Paulo e culminou no Jornal Nacional. O conluio mídia/tucanos, como sempre.
Ao mesmo tempo, abriu os microfones para o chefe de gabinete do secretário da Educação conjeturar sobre haver “movimento político por trás”. Ele quis incriminar
PT, PCdoB, movimentos sociais de esquerda… Nada de novo.
Só que não é necessário contratar nenhuma força-tarefa para se descobrir que os ataques de vandalismo às escolas ocupadas não partiram de alunos. Destruí-las não lhes interessa nem aos seus apoiadores.
A quem então interessa detonar uma escola?
A quem interessa fazer com que os estudantes desocupem uma escola?
Será essa a tática “de guerra” do governo em ação, para colocar a população contra a luta justa e digna dos estudantes?
Sugiro que o governador Alckmin procure os responsáveis por estas arbitrariedades e truculências, nas próprias hostes tucanas, talvez alguns mercenários.
Diante tudo isso:
* Por que o Ministério Público do Estado de São Paulo demorou tanto para intervir e, assim, proteger crianças e adolescentes? Estava esperando uma morte para cumprir o seu papel constitucional de defender a sociedade? Nessa terça 1, finalmente, MP começou a se movimentar.
* Cadê os Conselhos Tutelares para proteger crianças e adolescentes de agressões e abusos?
* Os ataques não seriam a materialização da volta de um eventual “acordo” entre o PCC e o governo Alckmin para impedir a continuidade do movimento?
Assim como Alckmin, os traficantes estão gostando nenhum pouco das escolas ocupadas. Primeiro, porque os alunos proíbem o uso de drogas nelas. Segundo, porque aumenta o policiamento nas escolas, atrapalhando os “negócios”.
Há, portanto, uma tragédia anunciada e não dá para silenciar diante de tantas barbaridades.
Mais do que nunca quem realmente defende Estado de direito e a democracia só pode estar de um lado neste momento: o dos estudantes que ocupam as escolas.
A propósito: por trás dessa barbárie toda não estaria também o truculento Saulo de Castro, secretário de Governo de Alckmin? É aquele mesmo Saulo de Castro, que desacatou deputados e foi denunciado ao Ministério Público. Esse cidadão é conhecido pelo estilo trator e pela truculência.
PS do Viomundo: Segundo o site Não fechem minha escola já são 231 escolas ocupadas. Até o momento, 2 de dezembro às 13h52, contabiliza 116 mil curtidas. Já o site do grupo pró-Alckmin, o Devolve minha escola, tem apenas 1.600.