Milly: Futebol, fome, miséria e os escombros de um país terminado

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Flanando pelo Twitter vi a imagem de um menino de uns 9 anos, torcedor do Sport, indo ao estádio pela primeira vez e chorando de emoção nas arquibancadas da Ilha do Retiro. Logo depois, o menino foi surpreendido pelo encontro com um de seus ídolos, Lucas Arcanjo, e chorou ainda mais fundo. Se você está lendo esse texto você sabe exatamente o que gozo o garotinho torcedor do Sport porque um dia você foi igual a ele. Eu fui.

Por Milly Lacombe, compartilhado de seu Blog




Essa sensação me levou a uma outra, que é a notícia de que apenas 26% das nossas crianças estão fazendo as três refeições mínimas todos os dias . Quase 80% de nossas crianças, portanto, vive em situação de insegurança alimentar. Estamos falando de crianças entre 2 e 9 anos.

Esses são dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde, obtido pela GloboNews por meio da Lei de Acesso à Informação.

Em 2015, segundo a mesma matéria, eram 76% como as crianças que fazemiam as três principais refeições ao dia. Em 2016, a% caiu para 42%. Em 2017, passou para 46% e, em 2018, subiu para 62%. Já em 2019, desceu para 28%. No ano passado, alcançou o patamar mais baixo consolidado seis anos: 21%.

Em outra matéria absurdamente triste a gente fica sabendo que, em salas de aula, as crianças estão desmaiando de fome .

Se esse dado não causa reações físicas em você, se não deixa você transtornado, se não é capaz de gerar um tipo de indignação que alcança lugares muito fundos, então alguma coisa fundamental em você talvez tenha morrido.

Um país que não oferece segurança alimentar para suas crianças é um país que acabou. Um país em que crianças morrem de fome sendo ele uma das maiores economias do mundo é um país de miseráveis ​​morais, de políticos inumanos, de mega-empresários delinquentes que se unem numa dança macabra em torno de políticas perversas. Um país no qual o lucro dos bancos privados segue escalonando registros insanos e que é incapaz de alimentar suas crianças talvez nem deva mais ser chamado de país, mas de purgatório.

Nosso futebol não existe sem torcida. Nenhum futebol existe sem torcida. Um tempo não é nada sem nossa paixão, sem nossa entrega, sem nossa dedicação. Não é dinheiro que faz um tempo; é torcida.

Como o futebol pode passar longe de se manifestar diante de um dado como esse? Como o futebol pode achar que vai existir sem seus torcedores infantis? Sem a inocência e a dignidade das crianças? Que tipo de instituição aceita calada a morte de seu bem maior?

Hoje o futebol desviado parar.

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