‘Milton Bituca Nascimento’ é um tributo repleto de momentos emocionantes

Compartilhe:

Documentário ‘Milton Bituca Nascimento’ se propõe a retratar a grandiosidade da trajetória de Milton Nascimento e o impacto profundo de sua obra na música brasileira e mundial.

Por Paulo Camargo, compartilhado de Escotilha




Documentário reforça a potência do músico Milton Nascimento para as artes. Imagem: Divulgação.

Documentário reforça a potência do músico Milton Nascimento para as artes. Imagem: Divulgação.

O documentário Milton Bituca Nascimento se propõe a retratar a grandiosidade da trajetória de Milton Nascimento e o impacto profundo de sua obra na música brasileira e mundial. Seu legado, imensurável em alcance e significado, é um desafio para qualquer produção audiovisual que se proponha a abordá-lo de maneira abrangente e justa.

Milton Nascimento nasceu em 26 de outubro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, mas foi em Minas Gerais que encontrou sua verdadeira identidade musical. Criado em Três Pontas, estabeleceu laços profundos com a cultura local e desenvolveu sua sensibilidade artística a partir das influências regionais e da diversidade musical brasileira. Sua carreira começou a ganhar notoriedade nos anos 1960, quando sua canção “Travessia” venceu o Festival Internacional da Canção de 1967, projetando-o para o cenário nacional e internacional.

O documentário demonstra consciência da magnitude desse desafio. A diretora Flávia Moraes escolhe como fio condutor a última turnê do artista, o que poderia indicar um recorte bem definido, evitando a tarefa hercúlea de abordar quase seis décadas de carreira. No entanto, o filme acaba expandindo seu escopo e adota uma abordagem ampla, trazendo diferentes perspectivas sobre o impacto de Milton na cultura brasileira e internacional.

A produção se destaca pela impressionante lista de entrevistados, que inclui grandes nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Simone, Criolo, Mano Brown, Djavan, Djamila Ribeiro, Lô Borges, Beto Guedes, Sérgio Mendes, Maria Gadú e Djonga. Além disso, participam nomes internacionais de grande relevância, como os músicos Pat Metheny, Stanley Clarke, Herbie Hancock, Quincy Jones, Wayne Shorter e o cineasta Spike Lee. A narração de Fernanda Montenegro confere transcendência ao filme.

Entre os momentos mais marcantes estão aqueles em que a câmera se detém sobre o próprio Milton, capturando sua sensibilidade e presença singular. A emoção transborda em cenas que o mostram em sua vulnerabilidade, mas também na força de sua arte e na conexão profunda com seu público. Esses trechos conferem ao documentário uma intensidade especial, tornando-o mais pessoal e autêntico.

A estrutura narrativa do filme adota uma montagem fluida, refletindo a imprevisibilidade da turnê de despedida. Essa escolha pode gerar certa falta de coesão em alguns momentos, com transições abruptas entre diferentes blocos temáticos. Ainda assim, há sequências de grande impacto, como a que aborda a relevância de Milton na luta racial, com depoimentos poderosos de Criolo e Mano Brown declamando “Morro Velho”.

Ao longo de sua carreira, Milton Nascimento construiu um repertório vasto e inovador, transitando entre diversos gêneros musicais, do samba ao jazz, do rock progressivo à música erudita. Seu envolvimento no movimento Clube da Esquina, ao lado de Lô Borges, Beto Guedes e outros talentosos músicos mineiros, resultou em um dos álbuns mais emblemáticos da música brasileira: Clube da Esquina (1972), que mesclava elementos da MPB com influências do rock e do folk internacional. Além disso, sua voz inconfundível e sua capacidade de compor músicas de profundo teor poético fizeram dele uma referência musical admirada no Brasil e no exterior.

As participações internacionais reforçam a dimensão global da obra de Milton Nascimento, evidenciando seu reconhecimento além das fronteiras do Brasil. No entanto, quando o documentário se volta para suas raízes em Minas Gerais, o impacto emocional se intensifica. A passagem por Belo Horizonte e a reunião com os amigos do Clube da Esquina no último show da turnê conferem ao filme um tom de celebração e pertencimento.

Quando o documentário se volta para suas raízes em Minas Gerais, o impacto emocional se intensifica.

Além de sua influência musical, Milton sempre se destacou por seu engajamento em questões sociais, especialmente no que diz respeito aos direitos humanos, à luta contra o racismo e à valorização da cultura afro-brasileira. Canções como “Coração de Estudante” tornaram-se símbolos de momentos históricos no Brasil, como a campanha pelas Diretas Já, enquanto “Maria, Maria” e “Canção da América” permanecem como hinos da resistência e da amizade entre os povos.

O documentário Milton Bituca Nascimento é um tributo repleto de momentos emocionantes e testemunhos sinceros sobre a grandiosidade do artista. Apesar de alguns desafios narrativos, a obra consegue transmitir a reverência e a admiração que cercam a trajetória de Milton, ressaltando sua importância inquestionável para a música e para a cultura brasileira. Percebe-se no filme a falta de uma abordagem mais aprofundada de nuances de sua trajetória pessoal, o que impede, em alguma medida, que o filme se torne um retrato definitivo. O documentário funciona como um tributo caloroso, reforçando a atemporalidade e a relevância de um artista singular, cuja obra seguirá ecoando por gerações.

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Categorias