Por René Ruschel, publicado em Carta Capital –
Teólogo visitou ex-presidente após ser impedido de encontrá-lo em 19 de abril
Ao completar 30 dias de sua prisão na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfim recebeu a visita de Leonardo Boff.
“Lula mandou um recado. Disse que é candidatíssimo e que só vai renunciar à sua candidatura no dia que o Moro trouxer uma única prova de que ele é dono do tríplex”, afirmou o teólogo. A conversa, que durou 1h30, foi, segundo Boff, um “reencontro de velhos amigos que recordaram muitas coisas do passado”.
Boff havia estado na sede da PF no último dia 19, na companhia do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, quando foram impedidos de se encontrarem com Lula por determinação da juíza da Vara Federal do Paraná, Carolina Lebbos. Agora, as visitas são negociadas diretamente entre os advogados de defesa de Lula e a Policia Federal.
O teólogo disse que o ex-presidente está muito bem, com entusiasmo e vigor, e que o fato de “permanecer recluso em uma solitária, onde pode conversar apenas com uma pessoa que serve sua comida, faz com que ele leia e reflita muito”.
Reiterou que Lula quer voltar ao poder para dar centralidade nas políticas brasileiras voltadas aos pobres, “pois governar é governar a partir dos pobres para que deixem a situação de inferno que vivem pela miséria e fome”. Afirmou que, caso ele vença as eleições, vai retomar as políticas de Estado voltadas àqueles que sempre foram excluídos.
Contou ainda que o ex-presidente tem lido romances e textos espirituais. “Ele está lendo agora o último livro que escrevi, “O Senhor é Meu Pastor – Nada me falta”. Falou de seu interesse em poder entender melhor a sua própria espiritualidade, não no sentido da religião, mas na profundeza do ser humano que questiona o sentido da vida, do universo.
“Conversamos sobre o significado de sua prisão, de ser um desígnio maior que transcende a ele e anos. Que isso não se reduza a brigas jurídicas”. Boff comparou Lula ao líder indiano Mahatma Gandhi, preso mais de trinta vezes, e a Nelson Mandela, ex-presidente sul-africano.
Falou da indignação de Lula pelo acúmulo de mentiras que se fazem contra ele, tanto no aspecto jurídico como pessoal. “Não quero que meu neto olhe para mim e diga ‘meu avô foi um ladrão’. Não, nunca fui ladrão”. Criticou a matéria veiculada pela revista Veja, segundo a qual estaria tomando insulina. “Não tomo nenhum tipo de remédio. Nenhum. Minha força, minha “insulina” é o grito do meu povo. É o bom dia e o boa noite que ouço todos os dias”.
Ainda segundo o teólogo, Lula afirmou que vai resistir e vencer. “Não morri de fome aos cinco anos. Aprendi a resistir e vou continuar resistindo”. Teria dito ainda que sua vocação é lutar por si mesmo e pelos outros.
Na próxima semana, Lula deve receber a visita do bispo Dom Angélico Bernardino. Pediu ainda a presença de outro grande amigo, frei Betto. Na saída, Leonardo Boff deixou um de seus livros, “A Águia e a Galinha”, com dedicatória, para ser entregue ao policial que cuidava do ex-presidente no momento da visita.
Foto da capa por Filipe Araújo/ Fotos Publicas