A partir de hoje, em todos os domingos, apresentaremos a seção #quarentextos, de Sonia Nabarrete, com minicontos que trazem como ingrediente o erotismo sob o ponto de vista feminino e feminista e uma dose de humor.
Por Sonia Nabarrete, jornalista e escritora –
O cara vivia de dar golpes em mulheres carentes, que estavam ainda mais carentes na pandemia. Criava perfis falsos em que tinha título de doutor (se até um ministro da educação fez isso, por que ele não?), dizia que morava no exterior, era rico, livre, e procurava mulher para relacionamento sério. Para ilustrar, usava uma foto que tirava da internet — um estrangeiro de boa aparência, mas não exageradamente bonito, para não levantar suspeita. Ele praticava o “scammer”, uma das modalidades de crime digital.
Durante um tempo, seduzia a vítima elogiando sua beleza e fazendo declarações de amor. Quando ela se apaixonava, ele dava o golpe. Inventava um imprevisto e pedia grana emprestada. Prometia pagar em euros ou dólares em curto prazo. A mulher, envolvida, mandava o dinheiro. Depois disso, nunca mais ouvia falar do sujeito e não dava queixa para não pagar mico.
Aquela era mais uma entre tantas. Madura, bonita, viúva. Jogou a conversa. Ela foi se mostrando envolvida. Mandou até alguns “nudes” que ele apreciou bastante. O papo com ela transcorria gostoso. Pensou que até poderia se envolver de fato.
Mas o profissionalismo falou mais alto. Pediu a grana. Ela disse que não poderia ajudá-lo porque tinha muito dinheiro, mas estava tudo bloqueado por causa do inventário do marido. Ela não tinha, inclusive, todo o dinheiro para pagar o advogado que cuidava do caso.
Ela contou que além de dinheiro em aplicações diversas, o falecido havia deixado fazenda, casa na praia, apartamento nos Jardins. Ele pensou bem e achou que valia o investimento. Mandou mensagem no dia seguinte, avisando que uma tia havia resolvido seu problema e ainda dado uma grana a mais, que ele emprestaria a ela.
Em breve poderia aplicar novamente o golpe, pedindo uma quantia bem grande, e ela, agradecida e com a herança disponível, não se negaria.
Pegou o dinheiro que outra havia mandado e transferiu para a viúva. Depois disso, nunca mais ouviu falar da mulher e, por razões obvias, não deu queixa à polícia.
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