E o Bem Blogado volta com mais um espirituoso miniconto – #quarentextos – da escritora e jornalista Sonia Nabarrete.
Propaganda enganosa
Houve um tempo em que seu ponto forte era a bunda. Grande, arredondada, firme como só é possível aos vinte e poucos anos, estava sempre presente nas fantasias dos colegas de faculdade.
O tempo passou e a bunda deixou de ser o que era: murchou, ganhou celulite, perdeu a forma. Ainda bem que ainda tinha um belo rosto, apesar das marcas do tempo.
Viu uma blogueira de beleza dizer que a regra de ouro é chamar a atenção para os pontos fortes e camuflar os negativos.
Passou então a usar batom bem vermelho para destacar a boca.
Só que agora, obrigada a usar máscara, a boca ficava escondida.
Apelou: comprou uma bunda artificial, na verdade um molde de silicone para usar dentro da calcinha, ainda que seu único programa fosse ir ao mercado comprar comida.
Numa dessas saídas, encontrou um velho colega de faculdade, que elogiou muito sua boa forma.
Ela olhou para a calça dele e viu um volume significativo, teve vontade de elogiar também.
Ele, com um olhar safado, sugeriu uma cerveja ou quem sabe um jantarzinho quando a pandemia acabasse. Ela achou uma boa ideia.
Depois, ambos pensaram melhor no assunto.
Ela, já com os transtornos da menopausa, ficou preocupada: será que dou conta daquele cacetão?
Seria tão melhor se ele tivesse um pau pequeno. Com certeza me divertiria muito mais.
Ele, em plena andropausa, também ficou preocupado: por que aquela bundona demorou tanto para cair na minha mão?
Logo agora que só consigo trepar com viagra e nem assim é 100% garantido. Seria tão mais fácil se ela não fosse tudo aquilo.
Acabou a quarentena e ele nunca fez contato. Ela ficou aliviada porque achou que ele broxaria ao descobrir que ela não tinha mais “aquela” bunda.
E ele não teve coragem de ligar, imaginando a decepção da antiga colega ao descobrir que o volumão na calça era um pedaço de pano enrolado no pau para aumentar seu tamanho.