E o Bem Blogado volta com a ótima escritora e jornalista Sonia Nabarrete (foto). Desta vez com um miniconto sobre a nostalgia de um casal companheiro – #quarentextos –
Antigos
Ele olhou para a cara plissada da mulher e lembrou-se da sainha plissada que ela vestia no colégio, quando a conheceu.
Bateu nostalgia, desejo e a certeza de que foi bom tê-la por companheira durante tantos anos.
Agora, na quarentena, não gostaria de estar com qualquer outra pessoa.
Lembrou-se de quando, pela primeira vez, enfiou as mãos por baixo da saia dela, depois a cabeça, para alcançar o que chamava de flor.
Uma flor orvalhada que desabrochava.
Eram tão poéticos, os dois.
Depois veio a intimidade, a safadeza, e o despudor de procurar e demonstrar prazer.
— Véio, conheço este olhar pidão.
— Lembrei de umas coisas e tô que tô, véia. Olha só.
— Eita! Esperando o quê?
— Só tomar o remédio da pressão.
Toca o telefone. Ela atende. Pesquisa com idosos para saber como estão na quarentena.
— Muito bem, dona. Estamos fazendo um monte de coisas gostosas.
— Cozinhando?
— Também.