Publicado no Blog Nocaute –
A discrição e a reserva dos ministros da Suprema Corte dos Estados Unidos, durante o primeiro pronunciamento oficial de Trump após a posse, deveriam ser tomados como exemplo pelos magistrados brasileiros, sempre tão falantes e televisivos. Por Fábio Kerche, de Washington
Essa semana o presidente Trump foi ao Congresso americano fazer o seu pronunciamento depois da posse, seu grande pronunciamento depois da posse. É nesse momento que o presidente sinaliza as suas políticas e as suas prioridades para o ano. Bom, eu não vou comentar aqui o desastre que foi o discurso, as sinalizações péssimas que ele deu. O Trump realmente é um desastre pra democracia, para os Estados Unidos e pro mundo.
O que me chamou a atenção e eu queria comentar com vocês hoje é que além dos convidados e dos membros do Congresso presentes, também estavam lá os juízes, os ministros da Suprema Corte americana. O que me chamou a atenção é que diferentemente dos outros, dos convidados e dos congressistas, os ministros do Supremo não se manifestaram durante o discurso.
A base do Trump, os aliados dele aplaudiam o discurso, muitas vezes de pé, de maneira calorosa nas sinalizações que o Trump fazia no seu discurso. Os ministros do Supremo não se manifestaram, você não percebia eles nem sorrindo, balançando a cabeça, nem aplaudindo. Nada. Por que?
Porque eles sabem que daquelas prioridades anunciadas, algumas delas podem parar no Supremo americano. Ou seja, não cabe aos juízes sinalizarem o seu entendimento, a sua aceitação ou negação daquelas prioridades porque elas ainda podem se tornar matéria para eles decidirem na Suprema Corte americana. Muito diferente do que a gente tem no Brasil, onde os ministros do STF brasileiro se manifestam publicamente, os julgamentos são transmitidos ao vivo na televisão, eles dão entrevistas, escrevem artigos.
É muito diferente do sistema aqui onde um juiz, um ministro da Suprema Corte tem que ser uma pessoa discreta, só se manifestar quando necessário e de maneira muito reservada. Eu acho que a gente, os brasileiros de uma maneira geral, os políticos de uma maneira geral têm que olhar para os Estados Unidos e aprender algumas coisas, outras coisas não. Mas nesse ponto eu acho que a Suprema Corte americana tem muito a ensinar para o STF brasileiro.