Moço, cuidado para não deixar o passado virar futuro

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Por Fernando Brito pra o Tijolaço – 

 

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Tirei as duas fotos aí de cima hoje, em dois pequenos supermercados próximos de onde moro – o Real e o Supermarket, em Niterói.




Parece bobo, não é? Mas para quem passou dos 50 anos não é não, porque somos de uma geração onde a placa que se via em mercados e obras de construção era, ao contrário, a de  ”não há vagas”.

Às vezes, até, com um peremptório e duro “não insista” para rematar.

Ok, não são ótimos empregos e certamente não são o sonho profissional de quase ninguém.

Mas certamente é melhor que não ter emprego nenhum.

E não é só para os mais pobres e com menos formação escolar, não.

Há vagas, embora com salários baixos, para todos os níveis.

Aliás, há tanta vaga aberta justamente porque paga-se pouco e muitos param por ali apenas o tempo necessário para sair do sufoco absoluto e buscar algo melhor.

Estas fotos daí de cima são do Brasil que não sai nos jornais.

O Brasil que sai no jornal está desmoronando, com os mercadinhos às moscas e o desemprego, não importa o que diga o IBGE, em alta.

Tudo está um desastre, tal índice é “o pior desde 2 mil e tanto”, tal taxa “é a mais grave desde tantos anos”.

Mas quer dizer que está tudo muito bem, tudo muito bom?

De jeito nenhum.

Que bom que a gente esteja insatisfeito com o Brasil, porque é mesmo para estar.

Este país ainda dá muito pouco a seus filhos, em matéria de educação, de saúde, de habitação, de oportunidades.

Mas cuidado, seu moço, porque moço eu também já fui.

E porque já fui e não sou mais, que este pais, sei que não faz uma geração, era muito, muito, muito mais avaro com seus cidadãos.

Avaro?

Não, a palavra exata  é cruel.

Porque só pode ser cruel que quer abaixar a inflação a base de  arrocho,  de corte nos gastos sociais, com a precarização do trabalho, com políticas recessivas.

Vão dizer que querem isso é apelar para o medo?

Pois eu não tenho problemas em dizer que se deve, sim, ter medo disso, porque sei muito bem como isso é terrível.

Eu sei e tenho obrigação de contar que existia um Brasil sem vagas para seu povo.

Mesmo as mais modestas, os “empreguinhos de dois salários” dos quais  a “turma da bufunfa” debocha, mas nem assim quer pagar e diz que os salários “altos demais” são responsáveis pelo desequilíbrio do tal “tripé macro-econômico”.

Talvez você, moço, não acredite em mim.

Ficamos assim: eu também prefiro que você duvide do que eu digo e até faça pouco caso.

É muito melhor  você me olhar desconfiado do que acontecer aquilo que faça você me dar razão.

Cuidado, porém, que o pior inimigo do bom é o que aquela turma diz que vai ser ótimo.

Acho que você tem toda a razão em querer mais, muito mais.

Só não esqueça que tivemos, não faz muito tempo, muito menos.

Onze anos atrás, a imagem do Brasil era aquela que divide a ilustração com as de hoje.

Eu não a quero de volta, você quer?

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