Moinho de sonhos e sobrevivência e resistência e desistências

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Lembro-me das várias visitas à #FaveladoMoinho, anos atrás, em épocas de ações sindicais, quando pretendíamos conhecer, incluir, promover pelo trabalho e informação.

Por Adriana do Amaral. compartilhado de seu Blog




A liderança havia sido avisada, fomos caminhando, e recebidas no centro de convivência.

Foram vários encontros: com a advogada, debatendo direitos; com palestrantes, mobilizando para a promoção da saúde; com professores, educando pela arte; de festividades, celebrando mais um final de ano…

Naquele lugar, vi de perto as mazelas humanas, gente vivendo com restos, moradias sem estrutura, mas também muito amor e respeito.

Havia, sim, inúmeros problemas: com drogas, com lideranças, familiares como em qualquer família.

Mas também soluções.

Em cada rosto, dignidade.

Brasileiros tentando resistir, viver, sonhar.

Recordo-me especialmente das linhas coloridas da dinâmica realizada, dos olhos das matriarcas ao nos questionarem.

Os problemas do dia-a-dia, como comida, roupa, violência eram minimizados, afinal, todos estão no mesmo barco, embora em embarcações bem diferentes, não é mesmo?

Naquele lugar, havia tolerância religiosa, e solidariedade.

Muitas pessoas de fora tentando ajudar os de dentro.

Os que participavam das atividades eram gentis com os convidados, ou que não se integravam olhavam desconfiados.

Um dia, uma fumaça: o barraco da dona fulana queimou: alguém esqueceu a penela no fogo. Graças a Deus, ninguém se feriu.

Na Favela do Moinho havia certa ordem, disciplina.

De quando em quando a polícia invadia o lugar, constrangendo, prendendo, julgando com olhos preconceituosos.

Muitos dentre os moradores, principalmente as mulheres e crianças, participam da vida do bairro, frequentam as escolas, as instituições, recebem benefícios. 

Os que conseguem emprego, trabalhavam.

Os adolescentes têm oportunidades, alguns deles sucumbem aos desejos e presentes.

A vida sempre segue um rumo incerto para os moradores do lugar.

Os homens mandou derrubar

A última favela do centro da cidade resistia à especulação imobiliária, ao racismo geográfico, ao abandono do poder público municipal, à violência institucional.

Mais de 800 famílias vivem num espaço que, curiosamente, está localizado nos Campos Elísios, um bairro nobre da São Paulo antiga. 

Famílias que estão sendo coagidas a se mudarem.

O governo do Estado diz que pretende construir um parque no lugar.

Prefeito e governador vão ajudar, com R$ 800 pra auxílio aluguel e outro tanto para custear a mudança:

quem mora na cidade de São Paulo sabe que uma família não consegue alugar um quarto em cortiço por este valor. 

Além disso, onde conseguir emprego, mesmo biscate, longe do centro de São Paulo? E a transferência dos estudantes?  E a creche para as crianças?

Bem ou mal, na região central dá para ir e vir caminhando aos lugares, dá para manter um mínimo de civilidade graças à rede de serviços.

As autoridades falam em dignidade, eu pergunto:

Por que não urbanizar o lugar, garantindo o mínimo de segurança e conforto para as famílias?

Quem sabe, garantir um período de transição, quando os mais antigos e mais novos teriam tempo para se adequar a mudanças reais?

Mas, esta opção inexiste.

Os moradores do Moinho, para o poder público, são problema.

Então, é mais fácil destruir os barracos, tirar as pessoas do lugar.

Resolver o impasse plantando árvores num parque que, muito provavelmente, não haverá bancos e será cercado?

Extinguindo a Favela do Moinho quantas pessoas passarão a viver em situação de rua na capital paulista? Quando pessoas sofrerão outras violências? Quantas famílias serão desagregadas?

Há muito anos, ainda foca, cobri a minha primeira pauta de remoção de favelas, na gestão Jânio Quadros. O secretário, todo “pimpão”, justificava que era o melhor para a cidade e para os munícipes.

Testemunhei o desconsolo dos pertences jogados, literalmente, em cima de caminhões.

Nunca me esqueci daquelas expressões de dor.

Uma casa, quando mora gente dentro, é um lar….

Gerações nasceram na Favela do Moinho…

Mas as autoridades não consideram aquele lugar onde moram pessoas e nasceram um espaço de direitos….

A regra excludente vale para a Favela do Moinho, para as muitas ocupações que existem na cidade, para comunidades inteiras.

A moradia, em São Paulo, cada vez mais é restrita para poucos.

Será que toda vida presta? Mesmo?

#FirstHouse  #nenhumafamíliasemteto

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