Rose Nogueira, Facebook –
Mario Soares me proporcionou um dos dias mais emocionantes da minha vida pessoal e profissional.
Nomeado ministro das Relações Exteriores logo após a Revolução dos Cravos, convidou toda a imprensa portuguesa e estrangeira que estava em Lisboa para ir a Londres com ele, para assistir a assinatura de Independência de Moçambique – que marcou definitivamente o fim da guerra colonial.
Eu fui, como repórter da TV Cultura de São Paulo, e fiquei tão emocionada que só chorava. Assistir a um país se tornar independente de Portugal era emocionante demais para uma brasileira. Pensar na luta vitoriosa da Frelimo – Frente de Libertação de Moçambique – liderada pelo poeta Samora Machel me emocionava mais ainda. Pensava também no MPLA de Angola, nas lutas de libertação do Timor Leste, da Guiné-Bissau, de São Tomé e Príncipe… e do Brasil.
Vivíamos aqui os piores dias da ditadura. Censura, ausência total de liberdades, prisões, tortura e morte.
Gabriel Romeiro era o diretor de Redação do Hora da Notícia em 1974 e me convocou para essa cobertura, que fiz com o câmera Rubens Mainente. Fomos juntos com Miguel Urbano, o grande jornalista português que trabalhava no Estadão e acho que até hoje é diretor do Diário de Notícias, de Lisboa. – que me pautava o tempo todo. Que privilégio!
Uns meses depois Gabriel foi para a TV Bandeiramtes e foi substituído por Vladimir Herzog na direção do jornal. Era demais aquele telejornal que fazíamos, inicialmente com Fernando Jordão, depois com Gabriel e ainda com o Vlado. Só que, em outro dia 25, de outubro de 1975, Vlado foi preso e morto no mesmo dia na tortura do Doi-Codi.
Passei uns 20 anos sem entrar na TV Cultura depois disso. Já fui por duas vezes saber se tinham ainda as imagens – em filme preto e branco – da cobertura da Revolução dos Cravos. Não tinham . Me responderam que os filmes se perderam numa enchente. Mas não na minha lembrança e no meu coração. Ando com muita vontade de escrever mais sobre essas emoções de repórter e de combatente da ditadura. De mulher, mãe e avó também.