Relembre as entrevistas do historiador e cientistas político Moniz Bandeira ao GGN, já anunciando os tempos atuais
Por Patricia Faermann,compartilhado de Jornal GGN
“Para o mundo, o Brasil está na lata do lixo. Um Executivo desmoralizado, composto por políticos altamente corruptos, um Legislativo quase todo vendido e um Judiciário que politiza suas decisões.”
Apesar de parecer atual, a declaração é de 6 anos atrás, em uma profunda análise do cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, em entrevista exclusiva ao GGN em 2016.
Autor de mais de 20 obras em todo o mundo, Moniz faleceu em 2017, aos 81 anos, ainda muito atuante na pesquisa e escrita, foi um dos preconizadores do conceito de geopolítica, quando países atuam para além do domínio, estrategicamente com interesses políticos nas relações internacionais.
Uma de suas obras mais conhecidas, “A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos” (ed. Civilização Brasileira), em crítica apurada, desdobrou a análise dos EUA sobre países como o Brasil.
Naquela entrevista de 2016, aos seus 80 anos, Moniz já afirmava que o “Brasil hoje já não existe para os estrangeiros”. Ele tratava da crise das instituições, no ápice do impeachment contra Dilma Rousseff e da ascensão do poder do chamado “Centrão” no Congresso, onde nasceu Jair Bolsonaro.
Em sua farta experiência internacional, destacava que o erro estava no Judiciário. Disse que nunca tinha visto em sua vida um um Supremo Tribunal Federal (STF) tão desmoralizado, “em que cada ministro atua como quer, toda hora falam à imprensa, adiantam suas decisões, politizam os julgamentos”.
E criticou duramente a Lava Jato, afirmando que para além das consequências na própria Justiça brasileira, os atos do ex-juiz Sergio Moro repercutiam para a derrubada da economia brasileira.
“Eu creio que essas cooperações, tanto do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de Dallagnol [coordenador da força-tarefa], estão prestando serviço ao estrangeiro, a uma nação estrangeira e arrebentando as empresas nacionais de construção, as maiores, as que estão encarregadas de projetos importantes.”
Naquela ocasião, as relações da Lava Jato com os Estados Unidos foram decifradas por Moniz, ainda antes das primeiras investigações e indícios trazidos pela imprensa da cooperação de órgãos dos EUA com a Operação brasileira.
“É uma forma de [os EUA] controlar o outro país, de espionar. E os que estão nessa campanha da Lava Jato atuam como se fossem agentes. Mesmo não remunerados, o fato é que, objetivamente, estão a favorecer uma nação estrangeira contra o Brasil. Estão a trabalhar contra os interesses nacionais”, disse.
Antes de falecer, da cidade alemã de St. Leon-Rot, Moniz compartilhava periodicamente suas impressões sobre matérias do GGN. No último email pessoal enviado, comentando o “Xadrez da globalização e da financeirização”, no qual Luis Nassif já denunciava viagens e palestras do ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, pelo mundo, Moniz atiçou:
“Não é só Sr. Deltan Dallagnol que viaja e vende palestras no exterior. Sergio Moro também. Já esteve em Heidelberg, Lisboa, New York e outras cidades. Quem pagou as viagens e as palestras? A quem servem?
Forte abraço, Moniz.”