Monólogo com quem se afastou por razões políticas

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, publicado no Brasil 247

Como vai você, meu amigo, que se afastou de mim por questões de predileções políticas?




Está chegando o fim do ano e dizem que agora é a hora de tirarmos nossas armaduras, depormos nossas armas e dizermos: “venha de lá um baita abraço”.  É, meu amigo, mas a hora não é somente esta, não. Qualquer momento pode ser utilizado para nos despirmos de nossos orgulhos, abrirmos um sorriso e uma cerveja, e procurarmos esquecer o que de ruim foi feito.

Lembra, meu amigo, que você era um daqueles que resolveram se revoltar contra a Copa do Mundo no Brasil? Começou com a história do “imagine na Copa”, para depois…  Você estava no seu papel, reconheço. Mas não era o seu papel chamar a presidenta de “vagabunda”, mandá-la tomar naquele lugar. Sim, você não fez isso verbalmente, mas apoiou quem o fez. Você, meu amigo, disse que a presidente tinha mais era que limpar a casa, lavar um tanque cheio de roupa, irritando-se pelo fato de ela ter dito que já tinha sido torturada e que não seriam os xingamentos de uns poucos endinheirados que iriam tirá-la da rota de trabalhar pelo fim da desigualdade.

Espero que você esteja bem e que tenha repensado um pouco sobre o que escreveu. Os fatos estão aí para fazermos, realmente, refletir sobre nossas atitudes.

Por falar nisso, fico pensando como está sendo sua atitude hoje a respeito de ter ficado do lado de um candidato a presidente que foi flagrado batendo na namorada e que teve como apoiadores figuras da extrema direita que pedem a volta da ditadura, dentre elas alguém que diz que só não estuprará uma mulher porque ela não merece (palavras do deputado Jair Bolsonaro à deputada Maria do Rosário).

Você, meu amigo, que sempre se mostrou uma pessoa sensível, solidária, mas que (sem críticas às suas predileções partidárias) defendeu um pensamento enviesado, egoísta, voltado tão somente ao próprio umbigo, o que depreendeu da atitude desse senhor? Viu-a como covardia altamente reprovável ou  o a apoiou, como quando alguns endinheirados utilizaram-se de impropérios contra a presidenta da República? Se se calou, saiba que, nesse caso, o silêncio é cúmplice, meu amigo.

É, meu amigo, está chegando o fim do ano. Um ano difícil, no qual vi pessoas admiradas e pelas quais tinha uma grande afetividade se afastarem. Ganhei a amizade de muitas outras, é verdade, mas doeu muito ver pessoas queridas perderem-se pelo individualismo, pelo machismo e pela falta de apreço pela justiça.

Espero que o próximo ano seja melhor para você, e que pessoas de boa índole não sejam contaminadas pelo individualismo, pela maledicência, pelo desrespeito e por julgamentos precipitados, e que se rebelem quando um ser humano proferir palavras criminosas contra um semelhante, como se deu recentemente e tem acontecido regularmente, com o apoio ou a omissão de alguns, o que, como sabemos, dá no mesmo.

Feliz Natal e um ano novo cheio de paz e sem preconceitos, meu amigo.

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