Por Fernando Brito em seu Blog –
A regra é clara: ganha quem fizer 50% + 1 dos votos ou, conseguindo mais de 40%, abra uma vantagem de 10% sobre o segundo colocado.
E, portanto, Evo Morales ganhou as eleições presidenciais na Bolívia, a menos que se aponte onde e quais urnas possam ter sido fraudadas.
Se ele ganhou o direito na Justiça de candidatar-se outra vez, é outra questão, diferente da do voto que lhe foi dado.
Tanto que seus adversários aceitaram participar da disputa.
Quanto à higidez do processo eleitoral, os bolsonaristas daqui deveriam ser os primeiros a reconhecê-la, porque a eleição boliviana é cédula e só por isso se pôde dispensar os resultados por transmissão eletrônica e contar, um a um, os pouco mais de 6 milhões e 450 mil votos dados no país e no exterior.
Imaginem o que seria uma eleição aqui com um resultado que se definisse, como lá, por uma pequeníssima fração de voto.
Que deram a Evo Morales cerca de 650 mil eleitores a mais que seu principal adversário, Carlos de Mesa. 47, 07% contra 36, 52% – 10, 55% de vantagem, o que deve aumentar ainda um décimo ou dois, nas 44 urnas que restam a apurar e com as quatro que foram anuladas e onde os eleitores voltarão a votar. Quase nada, no total de 34.555 urnas do pleito.
Lembrem-se que, na maré de direita que assolou o subcontinente e, agora, parece ter começado sua vazante, Evo Morales ficou quase sozinho, no país mais pobre da América do Sul.
Sua situação política, mesmo com a vitória, é delicada. A classe média que afluiu com os governos Morales, como por aqui, em boa parte se passou para a direita.
Salvaram sua eleição os pobres, os que menos ganham, mas que mais dão valor ao que conquistam: não foram raras, nas vilas mais miseráveis, percentagens de votos de 70, 80 e até mais de 90% para Evo.
Esta gente, traída por séculos por sua elite, reconheceu um dos seus, mesmo que ele não pudesse lhe dar tudo e nem mesmo o que merece.
Mas uma coisa que sempre lhe deram, ele não deu: o esquecimento.