Por José Antonio Costeira, Facebook
Amigo do blog, o jornalista José Antonio Costeira, de São Paulo, teve a honra de conhecer Takashi Morita, sobrevivente de bomba atômica, um sábio.
Takashi Morita cativa de cara pelo sorriso aberto, franco e por uma doçura quase infantil, capaz de comover rochedos. Com seu gracioso meneio de corpo, ele nos convida – eu e meu velho -novo amigo e parceiro Mario Jun Okuhara – a entrar em sua casa, no bairro da Saúde. Logo, nos abre a porta e a alma como se nos conhecêssemos há anos. Morita tem 93 anos, mas a vida acrescentou séculos à sua bagagem. Ainda assim está longe de ser um velho.
Membro do Exército Imperial Japonês, em 6 de agosto de 1945 – dia em que o B-29 Enola Gay dos EUA despejou uma bomba de urânio sobre Hiroshima – Morita estava a 18 quilômetros do epicentro da explosão. Sentiu no corpo o vento fervente do deslocamento de ar e a luminosidade ofuscante produzida pelo artefato. Perto de 140 mil pessoas morreram.
A exemplo de outras vítimas, sofreu no corpo os efeitos da radiação. Penou ainda com o preconceito daqueles que pensavam estar sob risco de vida ao se aproximar dos sobreviventes da bomba.
Nada impediu Morita de passar dias socorrendo feridos até ser ele próprio abatido por uma debilidade que o deixou prostrado por semanas no hospital. Sobreviveu a tudo e a todos. Prosseguiu morando em Hiroshima por anos. Depois, resolveu se mudar para São Paulo, ganhar a vida, e aqui manteve sua história guardada por muito tempo até lançar, em 2017, o livro “A última mensagem de Hiroshima”, onde relata “o que vi e como sobrevivi à bomba atômica”.
“Aprendi que nunca mais deveria pensar em alguém como um inimigo. A lógica da guerra não dá espaço para a dignidade humana”, afirma esse guerreiro que não se deixou vencer pela amargura. Saímos da casa de Morita calados e nutridos de histórias maravilhosas, com a certeza de que nunca mais deixaríamos de pensar nele e a sensação de que nos conhecemos há décadas.