Moro interrompe defesa, mas Meirelles nega envolvimento de Lula em corrupção

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Publicado no Jornal GGN

O juiz Sergio Moro entrou em colisão com a defesa de Lula mais uma vez, nesta sexta (10), ao impedir que o ministro da Fazenda Henrique Meirelles, presidente do Banco Central durante os dois mandatos presidenciais do petista, respondesse se o governo Lula foi bom para o País ou se estava ocupado com desvios em nome do partidos e aliados.

Durante a audiência do caso triplex, em que Lula é acusado de receber vantagens indevidas da OAS, Meirelles disse que sua relação com o ex-presidente sempre foi “focada na política econômica e nessa relação nunca identifiquei nada que pudesse ser identificado como algo ilícito.”




Sobre a acusação de que Lula comandou um grupo político que desviava dinheiro de estatais para compra de apoio parlamentar, Meirelles respondeu que nunca teve conhecimento de que isso fosse verdadeiro. Ele ainda disse que em nome do Banco Central, teve vários encontros com parlamentares, mas sempre para falar de assuntos institucionais.

“Pelos elementos que o senhor tem, o governo do presidente Lula trouxe benefícios ao País, não foi um governo que tenha buscado benefícios pessoais para os governantes e pessoas do alto escalão”, indagou Cristiano Zanin.

Foi quando Moro interrompeu e disse que a pergunta estava indeferida. “Não é apropriado perguntar a opinião da testemunhas. Ela responde sobre fatos, apenas”, afirmou o juiz.

Zanin rebateu: “Eu louvo o indeferimento e gostaria de fazer o registro que este critério se aplique também a todas as perguntas feitas. Ouvimos 69 testemunhas e diversas vezes a defesa fez impugnação [de perguntas do Ministério Público ou do próprio Moro] justamente com base nesse critério ora adotado por vossa excelência.”

“Parece que a defesa faz propaganda política do governo anterior”, respondeu Moro. “Não é apropriado. Aqui existe objeto de acusação bem delimitado”, explicou.

“Propaganda plítica não estou fazendo até porque sou advogado e a mim não cabe fazer nenhuma consideração de natureza política. Só estou enfrentando a acusação difusa que o Ministério Público lançou nos autos”, devolveu Zanin.

Meirelles encerrou reafirmando que nunca teve “conhecimento de algum fato concreto que pudesse identificar uma organização criminosa que tivesse Lula como comandante.”

Ao final da audiência de Meirelles, Moro ainda brincou dizendo que de sua parte, ele só tinha interesse em ouvir o ministro a respeito da economia nacional. “Sei que o tempo de vossa excelência é muito valioso, mas o juízo não tem perguntas a vossa excelência. Tenho perguntas sobre economia, mas não o momento apropriado. Está fora do objeto do processo. Deixemos para outra oportunidade, eventualmente.”

Em nota à imprensa, a defesa de Lula disse que ficou surpresa com a posição do juiz.

“A contraposição da realidade exposta pela testemunha à tese central da acusação levou o juiz a cair em contradição com posições que manteve anteriormente. Neste caso, Meirelles estava depondo sobre fatos, mas o juiz invocou o artigo 213 do Código de Processo Penal – a testemunha não pode dar impressões pessoais – para impedir que se materializasse um argumento favorável à defesa, vindo de uma figura pública que ainda ocupa posição de notoriedade. Essa limitação legal sempre foi cobrada pela defesa ao longo das oitivas das 68 testemunhas anteriores, sendo sempre rechaçada”, ressaltou.

“Houve claro objetivo de interromper uma arguição pertinente e favorável, num notório desrespeito ao trabalho da defesa. Há uma clara opção de ofuscar os sólidos argumentos que a defesa leva ao processo com incidentes periféricos gerados pelo juiz”, acrescentou.

O ex-ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Luís Fernando Furlan também foi convocado pela defesa de Lula para falar da relação do petista com empresário. Furlan disse que “que toda as missões empresariais foram concebidas dentro da estratégia de promover o Brasil como destinatário de investimentos e abrir espaço ao comércio com novos países.”

Questionado sobre se eventualmente identificou ilegalidades na relação de Lula com empresários, Furlan disse desconhecer fatos que ensejem essa acusação. Disse que Lula sempre teve conversas de interesse do País. O próprio ex-ministro promoveu encontros em sua casa para falar de desenvolvimento.

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