Publicado no Jornal GGN –
O inquérito que investiga a participação do senador e ex-governador Antonio Anastasia (PSDB) na Lava Jato corre o risco de ser esvaziado por falta de informações. Isso porque a única testemunha que implicou o sucessor de Aécio Neves (PSDB) em Minas Gerais com o esquema de propinas revelado na Petrobras não foi localizada pela Polícia Federal. A corporação pediu ao relator do caso no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, mais 30 dias para encontrar o policial federal afastado Jayme Alves de Oliveira Filho, mais conhecido como “Careca”.
Careca disse, em delação premiada às autoridades da Lava Jato, que entregou cerca de R$ 1 milhão em propina para Anastasia, a pedido do doleiro Alberto Youssef. Quem, na prática, patrocinou o “desaparecimento” de Careca foi Sergio Moro. O juiz federal autorizou, em novembro de 2014, que Careca respondesse ao processo em liberdade. Para substituir a prisão preventiva, Moro pediu o afastado de Careca da PF e solicitou que ele entregasse seu passaporte. Ele também foi proibido de mudar de endereço.
À época, o Ministério Público Federal emitiu parecer no qual sugeria que a prisão temporária de Careca fosse convertida em prisão preventiva. Moro negou. Na Lava Jato, a defesa de outros delatores – a maioria, executivos de grandes empreiteiras – tem criticado o juiz federal, argumentando que ele tem explorado prisões preventivas como modo de obter delações premiadas.
O magistrado determinou que Careca comparecesse “a todos os atos processuais e ainda, perante a autoridade policial, MPF [Ministério Público Federa] e mesmo perante este Juízo, mediante intimação por qualquer meio, inclusive telefone”, diz um trecho da decisão. O descumprimento das medidas cautelares poderia causar a renovação da prisão cautelar, advertiu.
Careca precisa confirmar a denúncia contra Anastasia e prover detalhes, pois só assim o inquérito contra o tucano pode prosseguir, afirmou o delegado Thiago Delabary na carta enviada ao STF.
O ex-policial federal também é essencial para esclarecer a suposta participação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com os desvios de dinheiro da Petrobras. O inquérito aberto no Supremo contra o peemedebista se baseia em relato de Careca de que ele entregou propina a Cunha no Rio de Janeiro.
A defesa de Anastasia contestou o inquérito aberto e pediu o arquivamento das investigações com o argumento de que não há indícios contra o senador. Antes de decidir, Zavascki pediu a opinião do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre o caso, e autorizou que a PF continue procurando a testemunha para depor.