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“Eles estão só sugando por enquanto. Hoje falei com eles sobre as contas lá da Ode [Odebrecht] pra ver se fazem algo”, respondeu Dallagnol
Jornal GGN – Em 2015, enquanto era juiz da Lava Jato, Sergio Moro enviou mensagem ao então chefe da força-tarefa do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, orientando a ele que procurasse diretamente os procuradores dos Estados Unidos para que pedir ajuda em uma diligência envolvendo as investigações que tramitavam em Curitiba.
Era 4 de novembro de 2015 quando o então juiz Moro, em férias, deu uma dica a Dallagnol: “Você viu a decisão do evento 16 no processo 5048739-91? A diligência merece um contato direto com as autoridades do US [Estados Unido]”, sugeriu Moro. “Colocar US attorneys [procuradores americanos] para trabalhar porque até agora niente [nada] rs”, escreveu Moro quando Dallagnol disse que iria providenciar o contato.
Pelo tratado de cooperação internacional em matéria penal assinado em meados dos anos 2000 entre Brasil e EUA, esse tipo de colaboração deveria ser intermediada pela autoridade central brasileira, que, no caso, é o Ministério da Justiça. Mas as mensagens reveladas pelo hackeamento dos celulares dos membros da Lava Jato mostraram um esforço para escapar dos olhos da autoridade central durante o governo Dilma.
O processo citado por Moro a Dallagnol aparece na Lava Jato como a quebra de sigilo fiscal do engenheiro e depois delator da Lava Jato, Zwi Skornicki.
Dallagnol disse a Moro que os americanos, até então, só estavam “sugando” informações da Lava Jato, sem retribuir à altura. “Hoje falei com eles sobre as contas da Ode para ver se fazem algo”, disse o procurador a respeito da Odebrecht.
Conforme o GGN já explicou aqui, com ajuda da força-tarefa, o Departamento de Justiça e a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA montaram ações contra gigantes brasileiras, inclusive a Petrobras, gerando pagamentos de multas em valores exorbitantes.
Durante toda a operação, os advogados de Lula e outros juristas desconfiaram e questionaram da natureza dessa colaboração com os norte-americanos e também com os suíços. Mas a força-tarefa sempre negou irregularidades.
Agora, com a mensagem revelada nesta segunda (1/2), vem à tona a confirmação do papel de Moro também na comunicação com os EUA. Durante as oitivas do caso Lula, o então juiz impedia que os advogados descobrissem o que os procuradores norte-americanos estavam obtendo em informações junto aos delatores da Lava Jato.
A mensagem abaixo faz parte de um lote de 50 páginas liberado pelo ministro Ricardo Lewandowski nesta segunda (1/2), em um dos processos de Lula no Supremo Tribunal Federal. O material, obtido pela Polícia Federal na Operação Spoofing, representa apenas 4,6% do total hackeado.