“Um escárnio, um deboche, um acinte, um verdadeiro atentado ao estado democrático de direito.” Assino embaixo da avaliação que o bravo jornalista Ricardo Kotscho faz do lançamento da candidatura do ex-juiz Sérgio Moro à presidência da República.
Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog
Foto: Montagem
Embora a imprensa comercial tente naturalizar a ambição presidencial do juiz declarado parcial e, portanto, corrupto, pelo Supremo Tribunal Federal, Moro terá que explicar muita coisa na campanha eleitoral, quando encontrará dificuldade para sair da defensiva.
A violação da Constituição e do devido processo legal, a destruição da engenharia brasileira e do setor de óleo e gás, os quatro milhões de empregos destruídos, a prisão de Lula para tirá-lo da eleição e pavimentar o caminho para a eleição de um fascista (o que lhe rendeu um ministério) e a montagem de uma verdadeira quadrilha em Curitiba estão entre as pedras no caminho de Moro.
Mas ele não faz cócegas na candidatura de Lula. Obviamente quem se dispõe a votar em Moro jamais votaria em Lula. Também a perda de Bolsonaro tende a ser residual, pois a pequena defecção em suas fileiras já se verificou por ocasião da saída de Moro do Ministério da Justiça.
Todavia, sua entrada no páreo embaralha de vez o jogo na direita, respingando até em Ciro Gomes, linha auxiliar do conservadorismo.
A tendência é a fragmentação ainda maior da tal terceira via. Ou alguém imagina que Dória abrirá mão de sua candidatura em favor de Moro? Mesmo que perca as prévias para Eduardo Leite, nos bastidores já se comenta que o governador de São Paulo se lançará a presidente por um partido nanico.
Cabe lembrar que, entre todos os presidenciáveis da terceira via, apenas o ex-ministro Mandetta compareceu ao ato de filiação de Moro ao Podemos.
Se é verdade que as manifestações de apoio a Moro por parte de alguns colunistas do Grupo Globo, vistos como porta-vozes dos Marinho, indicam que o ex-juiz pode ser o candidato da casa, os crimes em série cometidos por Moro na Lava Jato recomendam cautela e jogam a definição sonre quem contará com as bençãos da empresa para mais adiante, a depender da performance dos postulantes nas pesquisas.
Seria bem mais confortável para a Globo apoiar um tucano, por exemplo. Com isso, se livraria do ônus do debate sobre as mazelas provocadas pela Lava Jato.
Outro fator a complicar a vida do juiz corrupto são as pesquisas recentes. Elas mostram que, diferentemente de 2018, o tema corrupção, ao qual cinicamente Moro recorrerá na campanha, despencou aos olhos da população de prioridade número um para a quinta colocação, perdendo feito para saúde e emprego, por exemplo.
Enquanto isso, segue o líder Lula cada vez mais firme na ponta. Mas estão enganados e iludidos os que acham que a eleição de Lula será algo como um passeio no parque. A história recente das eleições presidenciais no Brasil me torna cético em relação à possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno.
Alguns amigos preveem inclusive a eleição mais difícil de todos os tempos para a esquerda no ano que vem. Isso devido ao arsenal de baixarias e ataques abaixo da linha da cintura que certamente sofreremos.
Contudo, se as pesquisas estiveram apontando na direção correta, se avizinha também para os conservadores a eleição mais espinhosa de suas vidas.
Não consigo deixar de ser otimista. Venceremos.