O artista plástico tinha grande projeção internacional e sempre se posicionou, em suas obras, contra a ditadura militar
Por Julinho Bittencourt, compartilhado da Revista Fórum
O artista plástico paranaense Elifas Andreatto morreu nesta terça-feira (29), aos 76 anos. A notícia foi confirmada na página do Instagram de seu irmão, o ator e diretor teatral Elias Andreatto.
Elifas tinha mais de 40 anos de atividade e ficou conhecido principalmente pelas 362 capas de discos que produziu, principalmente nos anos 70, de artistas como Chico Buarque de Holanda, Elis Regina, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Toquinho e Vinícius de Moraes.
Elifas tinha um trabalho engajado, sempre se posicionou contra a ditadura militar. Sua obra tinha grande qualidade artística, com reconhecimento no mundo inteiro.
Além dos trabalhos genuinamente engajados, Elifas produziu e produz peças de grande qualidade artística, com projeção internacional e reconhecimento no mundo inteiro. Ainda produzia cartazes, gravuras e ilustrações, e era diretor editorial do Almanaque Brasil de Cultura Popular, revista distribuída a bordo das aeronaves da companhia aérea TAM, para assinantes e bancas.
A causa da morte ainda não foi divulgada.
Sobre ele, seu irmão escreveu:
Elifas Andreato
Meu irmão mais velho, desde pequenino, rabiscava seus sonhos e ia mudando o nosso destino.
Tudo o que ele tocava com as suas mãos, virava coisa colorida, até a dor que ele sentia era motivo de tinta que sorria.
Sua travessura era zombar da pobreza e de toda a tristeza que ele via.
Se o quarto era apertado, ele criava castelos longínquos.
Se a fome era tamanha, ele pintava frutos madurinhos.
E eu que também era pequenino, ficava ao seu lado, tentando entender o que ele tinha de especial, dado pelos deuses, que habitavam o nosso pequeno quintal.
Um dia… Que eu estava distraído ao pé da cama, tentando pensar numa prece, para pedir que ele fosse feliz, um anjo pousou no terreiro e me disse que o meu irmão mais velho, tinha sido escolhido, para colorir o mundo cinza em que vivíamos.
Eu me lembro de que fiquei mudo, como convém aos mortais, diante de qualquer aparição divina… Fiquei ali olhando para o céu, completamente agradecido, por ser seu irmão, e me senti protegido, por toda a beleza e foi assim que entendi o papel do artista que ele era.
O meu irmão criador de tantas maravilhas era também um anjo desenhador, que veio a este mundo para colorir nossas vidas e pintar nossos sonhos de amor.
Voltei ao pé da cama e estou até hoje, de joelhos, rezando para os deuses protegerem meu irmão, para que a sua criação sirva de inspiração para os homens pensarem na beleza!
E quando os homens forem amigos dos homens, vou saber que o meu irmão não sonhou em vão.
Que o país que ele imaginou, possa ser colorido para todos!
Que a política do seu traço, seja homenageada SEMPRE!
Meu irmão, você retratou o que o nosso povo tem de mais belo:
A DIGNIDADE!
Irmão meu amado, você coloriu meu coração.
elias