Compartilhado do Site do Santos FC –
Seu nome era João Modesto, mas no futebol o conheciam apenas pelo sobrenome – que, coincidentemente, definia bem sua situação naquela defesa cheia de craques do Santos dos anos 60. As chances eram poucas, mas, quando as teve, honrou a sagrada camisa alvinegra, conquistando um título paulista e um brasileiro em apenas seis dias. Na madrugada desta quinta-feira, 30 de abril, ele se foi, aos 80 anos, mas deixou sua marca na história do Santos e do futebol brasileiro.
No domingo, 13 de dezembro de 1964, jogou com muita garra para parar o ótimo ataque da Portuguesa e ajudar o Santos a ser campeão paulista. A vitória por 3 a 2, na Vila Belmiro, garantiu o oitavo título estadual do Alvinegro Praiano. Seis dias depois já estava no Maracanã, enfrentando o Flamengo pelo título da Taça Brasil/ Campeonato Brasileiro.
No meio da semana, Modesto também jogara contra o mesmo Flamengo, em um Pacaembu pesado, cheio de poças d’água, quando, na primeira partida da decisão, o Santos goleara o Flamengo por 4 a 1. No Maracanã o Santos poderia ser campeão com um empate, mas o time estava cansado e não seria fácil controlar o rubro-negro carioca.
Realmente, o jogo se revelou uma tortura para os santistas. Zito e Mengálvio não foram bem, no ataque apenas Toninho mostrou mobilidade e vontade. Quase todos os jogadores pareciam pregados ao chão. Uma vitória do Flamengo, por qualquer contagem, obrigaria a um novo jogo, provavelmente também no Maracanã. Foi aí que Modesto apareceu.
Para o Jornal do Brasil, ele foi, simplesmente, o melhor jogador do Santos naquela noite:
Fez uma ótima partida. Antecipou-se sempre com precisão, dominando a grande área. Nas poucas vezes em que foi batido, teve fôlego para se recuperar.
Modesto tinha 25 enérgicos anos naquela noite em que fez uma perfeita dupla de zaga com Haroldo, suportando a pressão do ataque adversário, comandado por Paulo Chôco, e também a gritaria dos mais de 52 mil torcedores flamenguistas. Pena que, dessas suas façanhas, poucos se lembram, ou se lembravam.
Ele também estava na impressionante goleada de 11 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto, na Vila, assim como na goleada de 7 a 4 sobre o Corinthians, no Pacaembu. Alto, esguio, técnico e decidido, pode-se dizer que Modesto cumpriu sua missão no Santos de forma discreta, mas efetiva.
No Santos foi campeão paulista e brasileiro em 1964, e do Torneio Rio-São Paulo em 1964 e 1966. Transferido para o Coritiba, lá se tornou campeão paranaense em 1968 e 1969. Encerrou a carreira aos 30 anos.
São José do Rio Pardo do princípio ao fim
Nascido na pequena cidade paulista de São José do Rio Pardo, em 17 de junho de 1939, foi lá que Modesto começou, nas categorias amadoras do Rio Pardo, iniciando uma carreira em que tristezas e alegrias se alternaram o tempo todo.
Aos 18 anos machucou-se seriamente no joelho e teve de ficar um ano afastado do futebol. Dois anos depois, em 1959, se tornou profissional pelo Barretos; em 1963 passou para a Prudentina e depois de uma excelente temporada acabou contratado pelo Santos, o melhor time do mundo na época.
Como já foi dito, em dezembro de 1964 viveu a extrema felicidade de comemorar dois títulos importantes em apenas seis dias. Mas era difícil se manter titular em uma equipe que tinha zagueiros como Mauro Ramos de Oliveira, Orlando Peçanha, Joel Camargo, Haroldo…
Modesto permaneceu na Vila Belmiro até 1967, quando um sério problema na vista o afastou dos campos por um ano. Então, voltou para a Prudentina e depois seguiu para o Coritiba, pelo qual se tornaria bicampeão paranaense.
Tudo parecia ir muito bem no Paraná, mas em novembro de 1969, em um jogo pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa/ Campeonato Brasileiro, foi expulso pelo árbitro Airton Vieira de Moraes ao reclamar contra a marcação de um pênalti. Na súmula, o árbitro colocou que foi agredido pelo zagueiro, o que suspendeu Modesto por um ano. Decepcionado, o zagueiro decidiu encerrar a carreira e voltar para sua Rio Pardo.
Na madrugada desta quinta-feira, o grande zagueiro foi vencido por um câncer no pulmão que o atormentava há anos. Deixou os filhos João Henrique, Luciane e Cilmara, e quatro netas: Beatriz, Gabriela, Laura, e Mariana. Deixou, ainda, uma história no Santos, e no futebol, que jamais será apagada.