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“Ele era meu pai”. Essas foram as únicas palavras de um dos quatro filhos de Silvio Kammers, que morreu agora no início do mês de Covid-19 e exercia a função de ajudante de ordem do presidente da República, Jair Bolsonaro.
POR VANESSA CAMPOS
O servidor do Palácio do Planalto, no cargo de supervisor de ordens do gabinete pessoal de Bolsonaro, e 2º sargento do Exército, teve sua morte silenciada, censurada. Não houve sequer uma nota de pesar.
Apenas uma publicação no Diário Oficial da União, em 9 de março, que declarou vago o seu cargo, a contar de 4 de março de 2021, e nada mais. Nada mais.
A morte do trabalhador natural de Imbuia (SC), de uma família de agricultores, em nada abalou a rotina de um presidente que pratica o descaso em relação a uma pandemia mundial, que tirou a vida de quase 288 mil brasileiros.
Silvio havia perdido o pai em um acidente de trânsito. Há um ano, um dos seus dois irmãos também perdeu a vida em outro acidente de carro.
A dor de sua mãe, dona Terezinha Kammers, foi lacrada com o sigilo do Palácio do Planalto. O catarinense chegou a ficar internado, foi intubado e não resistiu ao coronavírus.
No Palácio, um servidor conta: “Se eu conhecesse o Silvio, falaria tudo. Mas o que posso dizer é que os casos de contaminação por Covid estão crescendo exponencialmente lá dentro. Só na minha área foram uns três nessas duas semanas passadas. O problema é que o povo ligado ao presidente é sempre morto de medo de tudo, porque se cortar o dedo e o sangue for vermelho, é decepado do cargo”.
Uma prima de segundo grau de Silvio compartilha que a família trabalha na roça, na lavoura em Nova Alemanha e Imbuia, distritos rurais do Oeste do Estado catarinense.
“Fico triste demais por todos da família. Com certeza, seus filhos vão sofrer a perda, assim como a mãe e o irmão dele que ainda está vivo”, lamenta.
O cenário na Presidência da República é desolador. Conforme relato de um servidor, muitos se contaminaram e agora os estagiários também estão contraindo a doença.
A presença física continua sendo obrigatória no trabalho. A primeira morte, no caso de Silvio, foi tratada como se não tivesse acontecido.
A “gripezinha” permanece excluindo a convivência de familiares, que diariamente enterram seus entes queridos.
Defensor de um tratamento precoce para a Covid-19, com remédios sem comprovação científica, Bolsonaro reforça um comportamento desumano. O uso da ivermectina, da hidroxicloroquina, da Anita, da Azitromicina e da vitamina D não salvou vidas.
A dura realidade, neste momento no Brasil, é de que não há vagas em UTIs, não há tratamento eficaz além da imunização em massa por meio de vacinas e do isolamento social.