Por Patricia Faermann, Jornal GGN –
Jornal GGN – A holding panamenha Mossack Fonseca foi apontada em investigações e escândalos internacionais por sua especialidade em lavagem de dinheiro por meio de offshores. Aparece na Operação Lava Jato como proprietária de vários apartamentos do edifício Solaris, no Guarujá, e mais recentemente foi revelado o seu controle sobre a mansão em Paraty dos Marinho, das Organizações Globo. A famosa “lavadora” também seria peça-chave em empresa fantasma no escândalo da Fifa.
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A mansão da família de Roberto Marinho, apesar de comprovados os reais proprietários, está registrada em nome da empresa Agropecuária Veine, que tem em seu quadro de sócios a Vaincre LLC: supostamente o outro nome para a Murray Holdings LLC – que, por sua vez, é controlada pela Mossak Fonseca.
Mas não é apenas a propriedade em Paraty que teria o controle jurídico da Mossack. Documentos revelados pelo diário uruguaio Sudestada, de jornalismo investigativo, mostram que o ex-dirigente da Fifa e ex-presidente da Conmebol, Eugenio Figueredo, também usou a Mossack para a abertura de uma empresa fantasma, no Uruguai, da qual usaria para lavar a propina recebida.
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Figueiredo foi um dos cartolas presos no escândalo da Fifa, deflagrado em maio do último ano. Extraditado em dezembro do último ano para o Uruguai, o ex-dirigente teve outra prisão decretada em seu país, por fraude e lavagem de dinheiro, em uma segunda investigação – a da Conmebol, sobre a denúncia de existência de organização criminosa, apresentada em 2013, por diversos clubes uruguaios e pela Associação de Jogadores.
O cartola assumiu a presidência da Conmebol em abril de 2013, depois de ocupar por 10 anos a vice-presidência da instituição. Também foi vice da Fifa de 2014 a 2015, período em que sua atuação é investigada no escândalo da Fifa.
De acordo com o jornal uruguaio, Eugenio Figueredo abriu a sociedade anônima Brikford Overseas SA, em paraíso fiscal no Panamá, com a ajuda da Mossack Fonseca & Co, no dia 15 de novembro de 1996. Os documentos mostram que, criada por pacto social, a Brikford teve registro de localização no mesmo ostentoso escritório de advogados da Mossack.
A empresa fantasma foi criada em sociedade por Figueredo e sua esposa, María del Carmen Burgos Mercado, que também é uma das sócias do ex-dirigente de futebol na compra de propriedades de quase 5 milhões de dólares na Califórnia, nos Estados Unidos.
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Em uma das manobras, logo na criação da empresa fantasma, uma reunião da Junta Diretiva de Brikford Overseas SA foi realizada para incluir os artigos 3 e 13, de seu pacto social. Com a novidade, uma mudança radical na diretoria. Saíram os oito sócios original e permaneceram apenas três: Eugenio Hermes Figueredo Aguerre (diretor e presidente da offshore), María del Carmen Figueredo (diretora e tesoureira) e Eugenio Pedro Figueredo Piñeyrúa (diretor e secretário), também parente do ex-vice-presidente da Fifa.
Para a iniciativa, Figueredo foi assessorado legalmente pela Mossack Fonseca & Co, que aparece no registro da empresa como agente legal. E manteve um cuidado: criar a cláusula que supostamente o eximia de responsabilidade por eventuais ilícitos que se poderiam cometer pela sociedade anônima.
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“O escritório em que nasceu a Brikford Overseas, da qual Figueredo e sua família alcançaram o controle posteriormente, pertence a um escritório que possui antecedentes internacionais de fabulosas manobras de lavagem de dinheiro, e é reconhecida nos Estados Unidos por suas artimanhas financeiras. Segundo dados apurados pela DEA, em 2009, a firma de advogados Mossack Fonseca & Co. tem representação no Uruguai e também participou de manobras na Argentina, Peru, Nicarágua e Estados Unidos”, publicou o jornal.
Desde que foi preso, Figueredo presta diversos depoimentos para as autoridades, inicialmente na Suíça, e depois para as norte-americanas. Em uma das declarações mais recentes, o ex-mandatário da Conmebol acusou o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira – outro alvo dos escândalos da Fifa – de ser o líder do esquema de corrupção no futebol sul-americano.
Antes de decidir pela extradição para o Uruguai, o ex-cartola foi convidado pelos Estados Unidos a ter prisão domiciliar no país, para seguir com as investigações de atos de corrupção, como pagamento de propina, enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. A expectativa é que, uma vez que caia nas mãos das autoridades a existência dessa empresa fantasma, os investigadores irão aprofundar as pesquisas sobre a criação da offshore no paraíso fiscal panamenho, sob a tutela da Mossack.