Mostra contextualiza obra de Arthur Bispo do Rosário

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Publicado em Carta Capital – 

A Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, reúne 150 obras do artista sergipano

Bispo do Rosario
Arthur Bispo do Rosário

“Os doentes mentais são como beija-flores, nunca pousam, ficam a 2 metros do chão.” O autor da frase, Arthur Bispo do Rosário, sempre flutuou acima do estabelecido. Em missão que considerava divina, o artista que passou 50 de seus 80 anos como interno psiquiátrico seguiu as vozes que lhe ordenavam tecer, bordar, colar, juntar, agregar, miniaturizar, inventariar o mundo. Gênio em tempo integral, circunstancialmente louco, o paciente diagnosticado como portador de esquizofrenia paranoide produziu obra ímpar. Com linha azul desfiada do uniforme de interno da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, construiu e envolveu miniaturas de escadas, cavaletes, carrinhos e navios. Um mundo inventado repleto de beleza e simbologia.




Para relembrar o artista, o Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea, na Colônia Juliano Moreira, inaugurou exposição com 150 peças criadas por ele e 50 de dez artistas convidados. “Um Canto, Dois Sertões quer mostrar esses dois universos constituintes da obra de Bispo, Jacarepaguá, bairro que na primeira metade do século XX era conhecido como sertão carioca, e Japaratuba, Sergipe, onde nasceu”, diz Ricardo Resende, curador da coleção.

Em janeiro, a equipe do museu esteve na cidade sergipana onde o artista viveu até os 15 anos, viagem que contribuiu para aprofundar a compreensão de sua obra. Os elementos que influenciaram o artista nos primeiros anos de vida, os brinquedos feitos pelas crianças, conforme relato de antigos moradores, as festas populares vestidas de cores, espelhos e fitas. “O que ele criou é fruto dessa fase, a manualidade, a artesanalidade, os objetos de linha azul, de catalogação do mundo, os bordados.”

Orfa
Orfa, entre as obras inéditas da exposição Um canto, dois sertões

Um mergulho nas manifestações religiosas de Japaratuba forneceu informações para a interpretação do Manto de Apresentação, cobertor que bordou ao longo da existência para usá-lo ao fim dela. “Em Sergipe vimos e entendemos de onde vêm o manto e os estandartes que Bispo criava. Tudo estava ali, no Reisado, na Chegança.”

Resende e a equipe lutam pela afirmação da instituição e por condições ideais para guardar o valioso acervo de 804 obras. A mostra, a primeira de longa duração, inclui peças jamais expostas, entre as quais Cadeira e Correntes, Galinheiro do Galinho Verde e Orfa.

Serviço:

Um Canto, Dois Sertões: Bispo do Rosário e os 90 Anos da Colônia Juliano Moreira
Local: Colônia Juliano Moreira, Jacarepaguá, Rio de Janeiro
Data: Até 3 de outubro

*Reportagem publicada originalmente com o título “A dois metros do estabelecido”

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