General que questiona o TSE contratou empresa que tem ex-diretor de Bolsonaro como executivo, mostra reportagem
Por Paulo Motoryn, compartilhado de Brasil de Fato
O subprocurador-geral do Ministério Público Federal (MPF) Lucas Rocha Furtado enviou ofício ao Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar possíveis irregularidades no acordo de cooperação entre o Exército e a empresa israelense de cibersegurança CySource. O caso foi revelado com exclusividade pelo Brasil de Fato na última sexta-feira (6).
Furtado aponta que o acordo tem indícios de desvio de finalidade que podem colocar em risco as eleições de outubro. No documento, argumenta que o general Héber Garcia Portella, comandante de Defesa Cibernética do EB (ComDCiber), já tinha sido nomeado para integrar a Comissão de Transparência das Eleições (CTE) quando assinou o contrato com a empresa israelense.
O subprocurador cita a revelação da reportagem do Brasil de Fato de que, no quadro de executivos da CySource, está Hélio Cabral Sant’ana, ex-diretor de Tecnologia da Informação da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
:: General que questiona eleições contratou empresa israelense de ex-chefe de TI de Bolsonaro ::
“No meu entender, é inadmissível que a estrutura do Exército Brasileiro seja usada para atender a um capricho de Jair Bolsonaro, que, de forma insistente, tem questionado a segurança das urnas eletrônicas e dos procedimentos de apuração eleitoral adotados pelo Tribunal Superior Eleitoral”, escreveu.
O subprocurador aponta que o general frequentemente “tem reforçado o discurso de Jair Bolsonaro no sentido de que o sistema de votação brasileiro contém riscos e fragilidades que podem vir a comprometer a lisura das eleições”. Por isso, o acordo teria sido celebrado “não com vistas à satisfação de uma finalidade pública, mas, sim, em flagrante desvio de finalidade, com vistas a investigar os supostos riscos e fragilidades do sistema de votação brasileiro”.
Extrato de acordo de cooperação técnica assinado pelo general Héber Portella / Reprodução/Diário Oficial da União
Exército nega relação com eleições
Em nota enviada à reportagem na tarde desta segunda-feira (9), o Centro de Comunicação Social do Exército afirmou que “o acordo foi firmado sem custos para a União e não possui nenhuma relação com eventos externos, como as eleições”.
Leia a íntegra:
O Centro de Comunicação Social do Exército informa que a Escola Nacional de Defesa Cibernética (ENaDCiber) é o Estabelecimento de Ensino subordinado ao Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) responsável pela qualificação de recursos humanos para o Setor Cibernético.
As capacitações proporcionadas pela ENaDCiber são obtidas mediante cursos, estágios e treinamentos conduzidos pela própria Escola ou mediante parcerias e convênios firmados com a rede de ensino nacional e internacional.
Nesse contexto, foi celebrado acordo de cooperação técnica entre a União, representada pelo Comando do Exército, por intermédio do Departamento de Ciência e Tecnologia, por meio do Comando de Defesa Cibernética, e a empresa CySource LTDA, para fins de capacitação continuada na área de Segurança Cibernética, conforme divulgado na página 31 da Seção 3 do Diário Oficial da União de 28 de abril de 2022.
Cabe ressaltar que o acordo foi firmado sem custos para a União e não possui nenhuma relação com eventos externos, como as eleições.
Empresa israelense tem militares e bolsonarista
Além de ter chefiado as políticas de tecnologia da informação na Presidência da República durante o governo Bolsonaro, Hélio Cabral Sant’ana foi primeiro-tenente do Exército, de janeiro de 2009 a março de 2013. Para sair do Executivo e assumir o cargo na CySource, ele teve autorização da Comissão de Ética Pública da Presidência.
O ex-diretor de TI da Presidência não é o único representante da empresa com passagem pelas Forças Armadas. Assim como ele, o diretor global de vendas da CySource, Luiz Katzap, foi tenente do Exército de fevereiro de 2008 a agosto de 2016.
A CySource foi fundada por veteranos das forças de defesa militar de Israel. Após anos atuando com segurança cibernética para organizações militares, a empresa afirma contar com “a melhor plataforma de educação e treinamento em segurança cibernética baseada em Inteligência Artificial do mundo”.
O diretor executivo da CySource, Amir Bar-El, assim como os outros fundadores da empresa, tem experiência no setor de defesa israelense. Ele atuou nas unidades de inteligência do Mossad, serviço secreto de Israel. Depois, fez carreira na iniciativa privada.
“Ao longo dos últimos anos estabelecemos academias de segurança cibernética para diversas organizações militares e unidades de segurança em todo o mundo, o que nos permitiu consolidar conhecimento estratégico na defesa cibernética”, afirmou Bar-EI no comunicado da parceria com o Exército Brasileiro.
Outro lado
O Brasil de Fato acionou os contatos oficiais da empresa CySource com um pedido de posicionamento, mas não teve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.
Edição: Glauco Faria