Produzir alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e sem trabalho escravo
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A 20ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi celebrada nesta sexta-feira (17) por cerca de quatro mil pessoas no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre. No local vivem 375 famílias, que têm como base de produção a agroecologia.
Além de assentados de todas as regiões do estado, o evento reuniu lideranças políticas e sindicais, autoridades e apoiadores da política de Reforma Agrária, inclusive de outros países, como Cuba, Guatemala, Argentina e Venezuela.
Entre os participantes, estiveram o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDAF), Paulo Teixeira, o próximo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, e o ex-governador Olívio Dutra (PT).
CUT-RS destaca resistência, organização e luta do MST
Dirigentes da CUT-RS e integrantes do projeto CUT com a Comunidade também estiveram presentes, unindo-se às comemorações que valorizam o trabalho e a produção de alimentos saudáveis.
Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, que fez uma saudação à festa da colheita, o MST representa “a luta histórica do povo brasileiro”. Ele destacou que “é um povo que resiste, que se organiza e busca alternativas ao capitalismo”.
Ele frisou que para “produzir de forma coletiva e organizada, enfrentando o agrotóxico e o mercado que quer ditar as regras, está aqui o MST com esse esforço gigantesco que é resultado dessa luta, produzindo e alimentando o povo”.
“Este dia de festa, esse amor que nos reúne, tem que nos ensinar a estarmos mais unidos, mais fortes e juntos para reconstruir o Brasil de volta para as trabalhadoras e os trabalhadores”, enfatizou Amarildo.
Colheita simbólica na lavoura
Um dos pontos altos foi a tradicional colheita simbólica na lavoura, que envolveu dirigentes nacionais do MST, parlamentares, o ministro e a especialista em alimentação saudável Bela Gil.
O momento foi comemorado com cantoria, aplausos e o grito de ordem “Viva a Reforma Agrária”, como reconhecimento às famílias que optaram por produzir alimentos saudáveis e preservar o meio ambiente.
Conforme Nelson Krupinski, do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, realizar a Festa da Colheita num território 100% livre de agrotóxicos e de transgênicos é simbólico e reforça o compromisso do MST com a vida.
“Aqui são produzidas mais de sete mil toneladas de arroz orgânico, mas também tem hortaliças, feijão, milho, panifícios.” Ele agradeceu aos parceiros do movimento e entidades de pesquisas que ajudaram a viabilizar, há mais de 20 anos, o cultivo de arroz agroecológico através de inúmeros experimentos.
MST é há mais de 10 anos o maior produtor de arroz orgânico
O MST lidera há mais de dez anos a maior produção de arroz orgânico da América Latina, conforme o Instituto Riograndense de Arroz (Irga). A estimativa é colher mais de 16 mil toneladas na safra 2022/2023, em uma área de 3,2 mil hectares, segundo levantamento do Grupo Gestor.
A produção, que envolve 352 famílias e sete cooperativas, ocorre em 22 assentamentos localizados em nove municípios das regiões Metropolitana, Sul, Centro Sul e Fronteira Oeste do estado. As principais variedades plantadas são de arroz agulhinha e cateto.
O município sede do evento é conhecido como a capital do Arroz Orgânico, título que foi conferido a partir da Lei nº 4.751/2018, de autoria do então vereador e hoje deputado estadual Adão Pretto Filho (PT).
Esse reconhecimento é fruto do trabalho cooperado das famílias assentadas que, além de contribuírem com a economia local, transformaram Viamão no maior produtor de arroz orgânico do Rio Grande do Sul. Lá, são cultivados 1.600 hectares do alimento.
Produzir alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e sem trabalho escravo
A Festa da Colheita também contou com ato político. O ministro Paulo Teixeira ressaltou que o presidente Lula tem responsabilidade com a Reforma Agrária e que a melhor forma de combater a pobreza e a miséria no campo é permitir, entre outras questões, o acesso dos trabalhadores à terra e ao crédito.
“Estou colocando em debate um modelo de Reforma Agrária que seja de ocupação por agrovilas, com infraestrutura de luz e internet, com agroindústrias e cooperativas que possam desenvolver a terra. Nós queremos educação no campo e remodelar os créditos para que os mais pobres acessem, que contemplem as cooperativas e desenvolvam agroindústrias no campo”, disse Teixeira.
O dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile, reforçou que o objetivo do movimento é produzir alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e sem trabalho escravo, em referência aos recentes casos ocorridos no Rio Grande do Sul. Ele destacou ainda a importância da organização social para contribuir com o governo Lula e mudar a política econômica.
“A fome é o ponto zero. Mas só dar comida não resolve o problema do Brasil. O que resolve é construir um outro projeto de nação, com soberania, e que de fato faça as mudanças estruturais no país”, observou Stédile.
Durante o ato, ocorreu a assinatura de três contratos do crédito Apoio Inicial, a fim de ajudar os camponeses a enfrentarem a estiagem no RS.
Também foi entregue a proposta do primeiro projeto do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para contemplar 5,6 mil famílias de 27 entidades populares de Porto Alegre, envolvendo 12 cooperativas do MST e mais de 1 mil famílias assentadas, além de demandas de dois projetos estruturantes da cadeia produtiva do arroz agroecológico, expressos na unidade de beneficiamento de sementes e na indústria do arroz parboilizado.
Pauta de reivindicações
A direção nacional do MST entregou reivindicações ao governo federal. O documento pede o assentamento imediato das 65 mil famílias acampadas no país, que vivem nesta situação há mais de dez anos.
Também foi reivindicado a constituição de políticas públicas para as 500 mil famílias que já estão assentadas, com garantia de crédito estrutural e assistência técnica para organizar a produção de alimentos e impulsionar o desenvolvimento.
Outro ponto é sobre investimentos na educação do campo, especialmente por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). O objetivo é se reunir em breve com o governo federal para discutir a pauta.
A programação também contou com depoimentos sobre direitos humanos e alimentação, momento em que teve a participação da culinarista Bela Gil.
Ela disse que não é possível falar em comida saudável sem falar em distribuição de terra e Reforma Agrária, e que tem muita esperança de que, com o atual governo, essas questões sejam resolvidas.
Na programação, aconteceu ainda uma encenação mística, que alertou para os impactos do uso de agrotóxicos na agricultura e destacou a resistência e a unidade da classe trabalhadora para a construção de uma sociedade mais justa e a efetivação da Reforma Agrária Popular.
Ao meio-dia, foi servido arroz carreteiro, prato típico do estado. Durante todo o evento, os participantes puderam visitar a feira que colocou à disposição uma variedade de produtos in natura e agroindustrializados. O espaço reuniu expositores do RS, Minas Gerais e Santa Catarina.
Também prestigiaram das festividades parlamentares do PT, PSol, PCdoB e PDT; e representantes do governo do Estado, da Secretaria-Geral e da Comunicação Social da Presidência da República (Secom), de sindicatos, universidades, movimentos sociais e outras entidades.
“Precisamos rever como se produz, distribui e se consome os alimentos, para construir propostas e políticas para alimentar o povo com comida saudável”, apontou Bela Gil.