Agricultores comemoram 20 anos de safras sem agrotóxicos e uma década como maiores produtores de arroz orgânico do país e da América Latina
Por Gilson Camargo, compartilhado de Extra Classe
MST alcança novo recorde de produção de arroz agroecológico desde 2019, com safra que supera as 16 mil toneladasFoto: Alexandre Adair/ MST
O Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) do Rio Grande do Sul e o Grupo Gestor do Arroz Orgânico realizam em março, em Viamão, a 20ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, com safra superior a 16 mil toneladas – recorde desde 2019.
A edição especial de duas décadas do evento é comemorativa aos mais de dez anos de liderança do MST no ranking do Instituto Riograndense de Arroz (Irga) de maior produtor de arroz orgânico do país e da América Latina.
O encontro será no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre, no dia 17 de março, às 8h30min.
Marildo Munari, da direção estadual do MST destaca que a Festa da Colheita do Arroz Orgânico promove o encontro de agricultores, simpatizantes da Reforma Agrária Popular e da luta da agroecologia.
“Nos orgulha muito poder dividir esse momento festivo e também partilhar a nossa produção de forma solidária com a sociedade gaúcha e brasileira”, pontua o dirigente.
Safras recordes arroz agroecológico
De acordo com o Grupo Gestor do Arroz Orgânico, na safra 2022/2023, a estimativa é colher aproximadamente 16.111 toneladas de arroz orgânico, cerca de 322.235 mil sacas de 50 quilos, em uma área de 3,2 mil hectares. As principais variedades plantadas são de arroz agulhinha e cateto.
Mesmo com o agravamento da estiagem, as famílias assentadas vêm aumentando a cada ano as safras de arroz ecológico.
A maior produção dos últimos anos foi registrada em 2019, quando o movimento comemorou 16 mil toneladas. Em 2020 e 2021 foram em torno de 12 mil toneladas e no ano passado a safra rendeu 15 mil toneladas.
Produção mobiliza 352 famílias
O cultivo é feito por 352 famílias, que estão organizadas em sete Cooperativas da Reforma AgráriaFoto: Alexandre Garcia/ MST
A produção ocorre em 22 assentamentos, localizados em nove municípios das regiões Metropolitana, Sul, Centro Sul e Fronteira Oeste do estado.
O cultivo é feito por 352 famílias, que estão organizadas em sete Cooperativas da Reforma Agrária, entre elas a Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes (Coopat), Terra Livre, Cooperativa dos Produtores Orgânicos de Reforma Agrária de Viamão (Cooperav), Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentamentos de Charqueadas (Copac) e Cooperativa Sete de Julho.
A produção de arroz agroecológico desenvolvida pelas famílias assentadas da Reforma Agrária Popular, organizadas no Grupo Gestor, tem se reafirmado como alternativa ao modelo convencional de produção dominante.
Celso Alves da Silva, da coordenação do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, ressalta ainda que o MST preza pela concepção de produção de alimento saudável em qualquer escala, preservando o meio ambiente, em um processo cooperado, que busca a distribuição de renda entre os produtores e que possa chegar à mesa dos consumidores a preço justo, alicerçado nos princípios da agroecologia em todas as dimensões do processo produtivo e organizativo.
A produção das cooperativas é certificada, abastece o mercado interno e é exportadaFoto: Rede de Armazéns do Campo do MST
“O processo produtivo do arroz agroecológico tem resgatado junto aos agricultores a troca de conhecimento, de saberes, do ponto de vista dos manejos tecnológicos, da gestão da produção, busca de conhecimento e estudos, podendo dialogar sobre os avanços, os gargalos e desafios na produção”, aponta.
Ainda de acordo com Silva, o Grupo Gestor busca maior autonomia no processo produtivo, na produção da semente, insumos e bioinsumos, na melhoria dos maquinários, domínio do manejo técnico, gestão da irrigação e processo permanente de capacitação e formação.
O Grupo Gestor firmou parcerias com universidades, Irga, Instituto Federal (IFRS), Emater RS e Embrapa.
O objetivo das famílias de produtores, explica Silva, é seguir evoluindo e melhorando sua produção para mostrar para a população brasileira a importância da Reforma Agrária Popular e da produção na Agricultura Familiar.
“A luta do MST é pela soberania alimentar popular, mas antes disso os Sem Terra se somam no combate à fome que assola milhares de brasileiros e brasileiras”.
Unidade de Bioinsumos
No dia 17 de março, às famílias Sem Terra irão compartilhar com a sociedade sua mais recente inovação: a Unidade de Produção de Bioinsumos Ana Primavesi.
De acordo com Dioneia Ribeiro, produtora de arroz orgânico e integrante do Grupo Gestor de Arroz Agroecológico, a iniciativa foi proposta através do Curso Nacional de Bioinsumos: conhecimentos da teia alimentar do solo, realizado em junho de 2022, no Instituto Josué de Castro, no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão.
Participaram do curso agricultoras e agricultores das cadeias produtivas do arroz, feijão, milho, soja, frutíferas e agroflorestas, totalizando 20 participantes de oito estados.
“A Cootap decidiu produzir o próprio insumo para melhorar a fertilidade do solo e ter estratégias de redução de custo nas propriedades das famílias. Também reforçamos a importância de sempre inovar e trazer novas tecnologias para qualificar os nossos alimentos”, destaca a Sem Terra.
Segundo Dioneia, essa unidade de produção de bioinsumos traz algumas garantias para os produtores e produtoras do MST, como o aumento da produção, autonomia na produção de bioinsumos e acesso a novas tecnologias, o que beneficia as famílias assentadas.
Para a safra 2022/2023 do arroz orgânico o uso desse bioinsumo foi implementado em duas áreas de pesquisa, em 28 hectares.
Já para a próxima safra 2023/2024, os bioinsumos estarão em toda a produção do arroz orgânico dos assentamentos em Viamão, em cerca de 1.126 hectares.