Muita saudade de Cesar Papai, Cesar Faria, Benedicto Cesar Ramos de Faria

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Por Maria Christina Ferreira (Cristina Buarque), no Facebook 

Então daqui a dois dias é o centenário dessa figuraça.
Conheci no estúdio da RCA, São Paulo, rua Dona Veridiana. Tinha sido chamado pelo produtor do disco, Fernando Faro, pra acompanhar. E chegou comentando que caiu um botão da camisa, que tentou arrumar camareira que resolvesse o problema, o buraco do botão.




E que violão! Sabia a hora de tapar buraco com bom gosto, não era músico de jogar conversa fora. Cesar sabia a hora certa de dizer o necessário. Era perfeito.

Cesar sabia ler música, mas era bom na intuição. Tinha cifra na frente, ele levantava os óinhos e viajava na música e no violão. Uma vez, numa gravação, o maestro Cristovão Bastos avisou que tinha um acorde errado na cifra e falou qual era o acorde certo. Na salinha do estúdio onde Cesar tava com Luciana Rabello, ela corrigiu e ele ficou com aquela cara de paisagem, sua marca. “Corrigiu, Cesar?” “Sim”. (entredentes: “na cabeça”). Luciana deu aquela gargalhada bem dela, levantou da cadeira e corrigiu a cifra que ele nem olharia. Só intuição.

Depois viramos colegas de serviço – ele no violão, eu no coro – e passei a chamar o amigo de Cesar Papai, que o patrão o chamava de papai.

Muitas viagens. Eu levava fitas com gravações de Cyro Monteiro, ele dizia quem era o pandeiro, o clarinete, os violões, ou porque sabia, ou porque conhecia o estilo.

Show no People, Leblon, com a Velha Guarda da Portela, ele me acompanhava na primeira parte e a segunda era com os velhos. E ficava Cesar ali vendo, mão coçando, até que pediu pra tocar também na segunda parte.

Desligado à beça. Hércules, o baterista que dividia quarto com ele nas viagens, conta que o produtor bateu na porta, deu os cachês de uma semana de serviço, boa quantia. Cesar botou na cama, amarrou os sapatos e só foi lembrar do cachê esquecido na cama quando já estava no avião.

Uma vez, show do Época de Ouro no Teatro Rival, tinha um solo de pandeiro do Jorginho. Quando o choro terminava, a platéia vinha abaixo, os músicos levantavam pra agradecer e Cesar sentado, cara de paisagem. Aí os músicos iam sentando, ele acordava, olhava pros lados e levantava sozinho.

Que ele jogasse pelada nas areias do Leme aos 70 anos, eu duvidei. E fiz uma caminhada da Almirante Gonçalves até o Leme. Tava ele ali comendo a bola. Pelada terminada, fomos tomar uns chopps na Taberna do Leme.

Lá em Mossoró – os músicos inventaram de fazer um churrasco no hotel fazenda, que a gente ficou ali a semana todinha -, ele pegou o violão e cantou lindamente. Lindamente, mesmo.

Bem que ele tentou ser cantor, mas Jacó de Bandolim vetou e o chamou pra ser violonista, apesar de ele ter aprendido violão no exército com um tal de Pires, que não sabia tocar violão.

Quando Lula concorria com Collor, da Viola fez um show no João Caetano e o pianista, saudoso Helvius Vilella, fez um solo lindo numa canção, mas no meio do solo, a melodia foi descambando pra “Lula lá”.

A platéia foi ao delírio e Cesar Papai, espiando na coxia, falou: “Que bacana. Queria ter um filho assim!”

Muita saudade de Cesar Papai, Cesar Faria, Benedicto Cesar Ramos de Faria.

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