Aos 89 anos e lutando contra um câncer, Pepe Mujica deixou um recado, em tom de despedida. “Não é poético o que eu digo. Alguém tem que dizer: não ao ódio! Não à confrontação! É preciso trabalhar pela esperança”
Por Plinio Teodoro, compartilhado de Fórum
Lutando contra um câncer de esôfago aos 89 anos, o ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica arrancou lágrimas em um discurso histórico, em tom de despedida, no encerramento da campanha do candidato progressista Yamandú Orsi nas eleições presidenciais, que acontecem no próximo domingo (27).
Ao lado de Orsi e da esposa, Lucía Topolansky Saavedra, de 80 anos, Mujica pediu, diante de uma plateia em catarse por sua presença, “um minuto do coração e não da garganta” para falar de seus anseios para o Uruguai na primeira eleição, nos últimos 40 anos, em que não participa ativamente de uma campanha.
“E eu faço isto porque estou lutando contra a morte, porque estou no final da partida, absolutamente convencido e consciente”, iniciou o ex-presidente uruguaio.
“Mas, eu tinha que vir hoje aqui pelo que simbolizam vocês”, emendou, com várias pessoas chorando ao ouvi-lo.
“Sou um velho que está muito perto de empreender a retirada de onde não se volta. Mas, eu sou feliz porque, quando meus braços se forem, haverá milhares de braços me substituindo a luta”, afirmou.
Em seguida, ele mandou um recado a todos os líderes progressistas do mundo, incluindo Lula, que completa 79 anos no dia da eleição do Uruguai – quando também acontece o segundo turno do pleito municipal no Brasil.
“Toda minha vida eu disse que os melhores dirigentes são os que deixam uma turma que os supera com sobra. E hoje estão vocês, está Yamandu, há milhares. E outros braços jovens porque a luta continua por um mundo melhor”, disse, referindo-se ao candidato progressista.
Mujica ainda agradeceu à esposa e à médica e mirou os mais jovens “que vão viver uma mudança no mundo que a humanidade ainda não conheceu”.
“A inteligência vai ser tão importante quanto o capital”, afirmou. “Se não formos capazes, como pais, de educar e formar, as gerações que vêm vão pertencer ao mundo dos irrelevantes, dos que não servem nem para que os explorem”, emendou.
Segundo Mujica, esse é o maior desafio e é por isso que hajam governos que abram o coração e a cabeça das pessoas.
“Não é poético o que eu digo. Alguém tem que dizer: não ao ódio! Não à confrontação! É preciso trabalhar pela esperança”, ensinou Mujica, antes de despedir-se.
“Até sempre… lhes dou meu coração. E obrigado. Tenho que agradecer à vida porque quando esses braços se forem haverá milhares de braços”.
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