Mulher grávida é atingida em operação policial na Maré e perde o bebê

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Por Maré de Notícias, compartilhado de Projeto Colabora

Jovem permanece em estado grave após ação que reuniu 300 agentes da Polícia Civil, blindados e dezenas de viaturas em cinco favelas da região

O dia ainda não havia amanhecido, por volta de 5h da manhã de terça-feira (27/10) quando 300 agentes da Polícia Civil em dezenas de viaturas e cinco blindados estacionaram na Avenida Brasil. Minutos depois, o grupo entrou numa das favelas da Maré, o Parque União. Segundo moradores, houve registro de tiros. Duas pessoas ficaram feridas, incluindo a jovem Maiara Oliveira da Silva, de de 19 anos, grávida de 4 meses que foi atingida na barriga. Ela saía de casa quando, de acordo com os vizinhos, foi atingida por um grupo de policiais que estavam na laje de uma casa próxima. Maiara foi encaminhada para o Hospital Municipal Evandro Freire, passou por uma cirurgia e está no Centro de Terapia Intensiva (CTI) em estado grave.




De acordo com familiares, a bala que atingiu a jovem foi retirada na própria terça-feira, mas ainda não se sabe se Maiara Oliveira da Silva será submetida a novos procedimentos cirúrgicos. A bala teria atingido pulmão, rim e bexiga. Ela estava com quatro meses de gestação do seu primeiro filho, que morreu na tarde desta quarta (28/10), segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Segue a nota encaminhada pela SMS para a Maré de Notícias: “Lamentavelmente, o óbito foi de fato confirmado após realização de exames, e a direção do hospital conversou nesta quarta-feira, 28/10, presencialmente, com a mãe de Maiara. O Hospital Evandro Freire e sua equipe se solidarizam com a dor dos familiares neste momento. Maiara segue em estado muito grave no CTI.”

Operação policial reuniu cerca de 300 homens, blindados e dezenas de viaturas. Foto Kamila Camilo
Operação policial reuniu cerca de 300 homens, blindados e dezenas de viaturas. Foto Kamila Camilo

A ação da polícia  também aconteceu nas favelas Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré. Às 11 horas de terça-feira houve uma incursão pela Baixa do Sapateiro e no Morro do Timbau, e registros de tiros na Rua do Serviço no fim da manhã e na Vila dos Pinheiros no meio da tarde. A operação terminou por volta das 17h, durando por 11 horas, de maneira silenciosa, com poucos registros de tiros. Segundo a polícia, a operação foi o resultado de uma força tarefa da inteligência da Polícia Civil, que envolveu cinco delegacias e uma investigação de três meses, que mapeou 100 pessoas com mandado de prisão que estariam escondidas na Maré. Segundo a nota da assessoria de imprensa da Polícia Civil, foram apreendidos fuzis, granadas, silenciadores, e carros e motos que seriam roubadas. Dezenove pessoas, entre adultos e adolescentes, foram presas/apreendidas na operação.

Um dos mandados, segundo a polícia, teria sido para o suposto autor do assassinato do menino Leônidas Augusto da Silva Oliveira, de 12 anos, que morreu após ser atingido na cabeça um confronto na Avenida Brasil, no dia 09 de outubro. A polícia não apresentou nenhum registro  que comprove a informação do autor da morte do menino.

Apesar da operação ter sido planejada pelo setor de Inteligência da Polícia, os moradores da Maré continuam sofrendo com os impactos da ação. O Maré de Direitos, projeto da Redes da Maré que oferece atendimento social e jurídico, identificou seis invasões a domicílio, quatro danos ao patrimônio e um caso de subtração de pertences, onde, segundo a moradora, os agentes da Polícia Civil teriam furtado R$300,00 de sua casa.

Carros da polícia estacionados na Avenida Brasil, na altura da Baixa do Sapateiro, antes do início da operação. Foto Douglas Lopes/Maré de Notícias
Carros da polícia estacionados na Avenida Brasil, na altura da Baixa do Sapateiro, antes do início da operação. Foto Douglas Lopes/Maré de Notícias

Operações policiais e pandemia

Mesmo com a pandemia de covid-19, os agentes não estavam utilizando Equipamentos de Proteção Individual. Após votação no Supremo Tribunal Federal em agosto de 2020, uma das medidas da Arguição De Descumprimento De Preceito Fundamental 635 (popularmente conhecida como ADPF das Favelas) foi a suspensão de operações policiais durante a pandemia devido à crise sanitária que a população vive. As operações poderiam acontecer em casos excepcionais mediante justificativa por escrito pela autoridade competente e sendo comunicada ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A ADPF 635 prevê também que um promotor de plantão acompanhe a operação. A equipe do Maré de Direitos entrou em contato com o Ministério Público, mas até o momento não foi informada a identificação do promotor que acompanhou a operação de hoje.

Durante todo o dia (27/10), as Clínicas da Família CF Augusto Boal, Diniz Batista dos Santos  e Jeremias Moraes da Silva não funcionaram.

Segundo Painel Rio Covid-19, o município do Rio de Janeiro conta com 116.591 casos e 11.899 óbitos confirmados. Desses, 775 casos e 129 óbitos são na Maré. Na última semana (de 20 a 26/10)  o número de casos de coronavírus aumentou 4% na Maré.  No final de julho foi lançado o Conexão Saúde – De Olho no Covid-19, que é um projeto em parcerias com diversas organizações para o enfrentamento da pandemia na Maré e em Manguinhos. O projeto oferece o acesso à testagem, telemedicina e ao programa de isolamento seguro.

Devido à operação policial de hoje, pelo menos 110 testes para covid-19 deixaram de ser realizados no Centro de Testagem da Maré. Da mesma forma, pessoas com casos de covid-19 ativo acompanhadas pela Redes da Maré no Programa de Isolamento Seguro e que necessitam de auxílio alimentação para a garantia do isolamento domiciliar durante o período de infecção não puderam receber o Kit alimentação disponibilizado pelo programa.

Além da Maré, nos últimos 10 dias aconteceram operações policiais em Acari e no Jacarezinho. Também nesta terça-feira (27), duas pessoas foram mortas durante operação no Complexo do Lins.

Na foto: Maiara Oliveira da Silva estava grávida de quatro meses do seu primeiro filho. Foto Reprodução das Redes Sociais

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