Por Patrícia Faermann, Jornal GGN –
Expressões como “golpe”, “injustiça”, “governo ilegítimo”, “não escolhido nas urnas”, além de históricos de luta de Dilma Rousseff e contra o “sombrio” de Michel Temer foram usados por jornais de todo o mundo, nesta quarta-feira (31) em que uma presidente da República foi afastada sem crimes de responsabilidade. A notícia, ao contrário do que aqui, não foi celebrada pela maioria dos diários, mas escancarados os bastidores que caem junto com Rousseff.
Veja o que os jornais falaram pelos quatro cantos do mundo:
Nos Estados Unidos, o The Wall Street Journal deixou em posição privilegiada a manchete de que a ex-guerrilheira que lutou contra a ditadura no Brasil e que também “lutou como presidente“, “em meio a uma economia conturbada e um clima político turbulento”, foi afastada pelo processo de impeachment que ela denunciou “ser um golpe”.
O alemão Spiegel Online destacou em sua capa “O novo presidente do Brasil Temer: O homem por trás da sombra“. “Quase nenhum dos brasileiros votariam nele e, de qualquer maneira, Michel Temer é agora presidente. Com um gabinete completamente branco, totalmente masculino, que representa a velha elite. Os líderes empresariais triunfam”, diz a manchete do diário europeu.
Apesar de defensores do impeachment tentarem provar que o caso de hoje foi tão legítimo como o de Fernando Collor, em 1992, a britânica BBC mostrou que não: “o impeachment de Collor foi um caso claro. Haviam provas abundantes de propinas pagas a ele”. “Vinte e quatro anos Vinte e quatro anos depois, o Brasil tem pela segunda vez o impeachment de um presidente. Mas desta vez, as circunstâncias parecem muito menos claras”, divulgou o jornal pelo mundo.
“Embora as pesquisas mostrem que há uma ampla rejeição de Dilma Rousseff como presidente, a questão de saber se ela é culpada de um crime punível com a perda do seu mandato provou uma controversa explosiva no Brasil. Como as coisas chegaram a este ponto e como a história vai olhar para trás sobre o impeachment de primeira mulher presidente do Brasil?”, ainda questionou a reportagem.
Um pouco mais conservador, o El País da América Latina não pode deixar de compartilhar a fala de Dilma, no discurso histórico desta segunda-feira (29): “‘Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe’, disse segunda, diante dos 81 senadores que a julgariam”. Tentando a imparcialidade, no terceiro parágrafo o jornal não pode negar: “No fundo, o impeachment sempre foi político“.
O diário português Público.PT deu espaço para diversas reportagens, entre elas a que conta a trajetória de Michel Temer: “de vice ‘decorativo’ a chefe de Estado“, apresentando o peemedebista como o “orquestrador” do afastamento de Dilma Rousseff e que hoje compõe “um governo exclusivamente por homens de idade, brancos e conservadores” e com um “discurso de unidade nacional não conseguiu convencer uma grande parte da população que punha em questão a sua legitimidade”.
“A primeira mulher presidente do Brasil Dilma Rousseff foi cassada por um Senado contaminado por corrupção, após um cansativo processo de impeachment que encerra 13 anos de domínio do Partido dos Trabalhadores”, introduz assim o britânico The Guardian. “Na sequência de uma derrota esmagadora de 61 a 20 no Senado, ela será substituída para os restantes dois anos e três meses de seu mandato por Michel Temer, um patrício de centro-direita que estava entre os líderes da campanha contra o seu ex-companheiro de chapa”, seguiu o jornal.
Seguindo a tradição do francês Le Monde, de escancarar o golpe que se consumiu nesta quarta-feira, o jornal hoje deu a triste notícia: “O drama de sua queda, a denúncia de um ‘golpe’ ameaçando a jovem democracia brasileira, sua guerrilha passado, seu sofrimento e resistência à tortura durante a ditadura militar (1964-1985), nada assegurou a ela mansidão de seus juízes”.
O The Intercept, coordenado pelo jornalista que ganhou fama após revelar os datos dos Wikileaks, Gleen Greenwald, ganhou destaque no Brasil após receber a versão em português. Mas o diário originalmente norte-americano trouxe grande destaque à cobertura do impeachment e do resultado nesta quarta-feira. Em reportagem, uma análise sobre a saída de Dilma e a entrada de Temer, resumiu: “É a personificação da covardia x coragem“.
O diário online também disponibilizou um vídeo em quem Greenwald analisa o impeachment para o canal de televisão dos Estados Unidos Democracy Now, que pode ser visto com legendas em português:
O jornal chinês Shanghai Daily trouxe uma reportagem com amplo espaço para a defesa de Dilma Rousseff, realizada nesta segunda-feira (29). O diário reproduziu algumas falas da então presidente: ‘”Eu sei que serei julgada, mas a minha consciência está limpa. Eu não cometi um crime”, disse Rousseff a senadores em seu processo de impeachment”. E continuou destacando que ela foi reeleito, em 2014, por mais de 54 milhões de eleitores, seguindo a Constituição do país.
O árabe Al Jazeera preferiu uma reportagem mais objetiva, sem artigos ou opiniões, mas dedicou a um vídeo a manifestação sobre quem seria o novo presidente da República, Michel Temer. Sob o título “Impeachment de Dilma Rousseff: um caso de hipocrisia?“, o jornal lembrou que Temer é ficha suja e está banido de concorrer a eleições por 8 anos por “ilegalidades no financiamento de campanhas eleitorais”, mas, por outro lado, pede o impechment de Dilma por “crimes fiscais”, além de ser “acusado de corrupção na Petrobras”.