Compartilhado de DW Brasil –
Situação é mais alarmante em subregiões tropicais das Américas do Sul e Central, onde redução chega a 94%. Relatório mostra que diminuição da biodiversidade ameaça a segurança alimentar e pode levar a novas pandemias.
O mundo perdeu mais de dois terços das populações de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes selvagens em menos de 50 anos, principalmente devido à atividade humana desenfreada, informou nesta quinta-feira (10/09) o Fundo Global para Natureza (WWF).
Os dados estão na 13ª edição do relatórioÍndice Planeta Vivo, lançado pelo WWF em todo o mundo e que aponta que o desmatamento crescente e a expansão agrícola são os principais responsáveis pela queda de 68% das populações desses animais entre 1970 e 2016.
As regiões mais afetadas são subregiões tropicais das Américas do Sul e Central, onde a redução chega a alarmantes 94%. Para o relatório, o WWF rastreou mais de 4.000 espécies de vertebrados.
“A natureza está diminuindo globalmente a taxas sem precedentes em milhões de anos. A forma como produzimos e consumimos alimentos e energia e o flagrante desprezo pelo meio ambiente, enraizado no nosso modelo econômico atual, levou o mundo natural aos seus limites”, escreveu o diretor-geral da WWF, Marco Lambertini, no relatório.
Segundo o estudo, na América Latina e no Caribe, 51,2% da perda da biodiversidade se deve a mudanças no uso do solo, incluindo degradação e perda de habitat de vários animais. Essas mudanças, geralmente, são provocadas por agricultura insustentável, construção de infraestruturas, crescimento urbano e produção de energia e mineração. Para habitats de água doce, a fragmentação de rios e riachos e a retirada de água são ameaças constantes.
“A conclusão é clara, a natureza está se transformando e sendo destruída em uma velocidade sem precedentes na história, a um custo altíssimo para o bem-estar do planeta e da humanidade”, disse o diretor do WWF para a América Latina e Caribe, Roberto Troya .
O WWF alerta que “sem a biodiversidade do solo, os ecossistemas terrestres podem entrar em colapso, pois até 90% dos organismos vivos nesses ecossistemas, incluindo alguns polinizadores, passam parte de seu ciclo de vida nesses habitats.”
E, com a perda da biodiversidade, a segurança alimentar fica ameaçada. Muitas espécies e ecossistemas importantes para a alimentação e a agricultura estão em declínio e a diversidade genética dentro das espécies está diminuindo com frequência. A situação é grave pois esses ecossistemas contribuem para fornecer as condições necessárias para a produção de alimentos, por exemplo, regulando os fluxos de água e fornecendo proteção contra tempestades. Além disso, os ecossistemas abrigam polinizadores que permitem a reprodução de muitas espécies de culturas importantes, animais que protegem as culturas de pragas e reduzem a necessidade de agrotóxicos e micro-organismos e invertebrados que enriquecem os solos.
Pandemias mais frequentes
Outra alerta do WWF é que pandemias podem ser mais frequentes no futuro. Segundo o diretor-geral da WWF, a covid-19 é “uma manifestação clara” da ruptura na relação do homem com a natureza.
Embora as origens do novo coronavírus ainda permaneçam incertas, o relatório destaca que até 60% das doenças infecciosas atuais vêm de animais, e quase três quartos delas de animais selvagens. O estudo também pontua que metade de todas as novas doenças infecciosas emergentes de animais está ligada a mudanças no uso da terra, intensificação agrícola e indústria de alimentos.
A expansão agrícola e industrial em áreas naturais, muitas vezes, perturba os sistemas ecológicos que regulam o risco patogênico. Além disso, podem levar a um contato próximo entre a vida selvagem e as pessoas, aumentando a chance de uma doença se espalhar para os humanos.
Áreas intocadas
O relatório também destaca que 58% da superfície da Terra está sob intensa pressão humana. Desde 2000, 1,9 milhão de km², uma área do tamanho do México de terras ecologicamente intactas, foi perdida, a maioria nos campos tropicais e subtropicais, ecossistemas de savana e arbustos e florestas tropicais do sudeste asiático. Apenas 25% da área terrestre ainda pode ser considerada “selvagem”, a maior parte dela contida em um pequeno número de nações: Rússia, Canadá, Brasil e Austrália.
Além das espécies animais, há o risco crescente de extinção de espécies vegetais. Estima-se que uma em cada cinco (22%) está ameaçada de extinção, principalmente em áreas tropicais. O relatório também destaca que a Mata Atlântica no Brasil perdeu 87,6% da vegetação natural desde 1500, principalmente durante o século passado, o que levou à extinção de pelo menos dois anfíbios e deixou 46 espécies ameaçadas de extinção.
LE/afp, lusa, ots