Mundo tem recorde de jornalistas presos

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No total, 488 jornalistas estão presos, 20% a mais que no ano passado, aponta a ONG Repórteres Sem Fronteiras. Aumento foi impulsionado sobretudo por Myanmar, Belarus e China. Número de mulheres detidas também é recorde.

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há 8 horashá 8 horas

Há atualmente 488 jornalistas presos no mundo, o número mais alto desde que a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) começou a contagem, em 1995, segundo relatório anual da ONG divulgado nesta quinta-feira (16/12).

O total de 500 jornalistas detidos é 20% maior do que o registrado no ano passado. “Os números revelam a força da repressão cada vez mais implacável contra a informação independente”, diz o relatório.

Segundo a RSF, o “aumento excepcional no número de detenções arbitrárias” se deve principalmente a três países: Myanmar, Belarus e China.

A ONG aponta que em Myanmar uma junta militar tomou o poder em fevereiro deste ano; Belarus “mergulhou em um modelo repressivo após a reeleição do Alexander Lukashenko em agosto de 2020″; e a China de Xi Jinping “está aumentando seu controle sobre a Região Administrativa Especial de Hong Kong, antes vista como um modelo de liberdade de imprensa na região”. Segundo o relatório, a Lei de Segurança Nacional imposta em 2020 por Pequim serviu de pretexto para a prisão e detenção de pelo menos dez jornalistas.

“A alta histórica no número de jornalistas em detenção arbitrária é o resultado de três regimes ditatoriais”, afirmou Christophe Deloire, secretário-geral da RSF. “É um reflexo do fortalecimento das ditaduras no mundo, de um acúmulo de crises e da falta de escrúpulos desses regimes. Também pode ser o resultado de novas disputas geopolíticas de poder, onde os regimes autoritários não sofrem pressão suficiente para limitar a repressão.”

Os cinco países onde há mais jornalistas presos são China (127), Myanmar (53), Vietnã (43), Belarus (32) e Arábia Saudita (31). O Brasil não é mencionado no relatório.

Recorde de mulheres presas

O total de jornalistas mulheres presas também alcançou o recorde de 60, um aumento de 33% em relação a 2020, disse a ONG. A China é o país onde o maior número de mulheres estão detidas (19).

Entre elas está a jornalista chinesa Zhang Zhan, que cobriu a pandemia de covid-19 na cidade chinesa de Wuhan e venceu o prêmio RSF 2021 de liberdade de imprensa. Ela foi detida em maio de 2020, após divulgar nas redes sociais imagens de ruas, de hospitais e de famílias infectadas, tornando-se uma das principais fontes de informação independentes sobre a situação de saúde na região.

Sua detenção foi mantida em segredo durante vários meses, e em dezembro do ano passado ela foi condenada a quatro anos de prisão por perturbar a ordem pública. A jornalista iniciou uma greve de fome para protestar contra a decisão e, segundo a RSF, se encontra em estado crítico de saúde.

Entre os jornalistas homens presos mencionados no relatório está Julian Assange, fundador do portal WikiLeaks. Detido desde abril de 2019 no Reino Unido, o whistleblower acaba de sofrer um revés com a decisão da Justiça britânica de abrir caminho para sua extradição para os EUA, onde corre o risco de ser condenado a 175 anos de prisão. Washington acusa Assange de 18 crimes após o Wikileaks publicar milhares de documentos militares e diplomáticos.

Um jornalista morto por semana

Em contraste com o aumento de detenções, o total de jornalistas mortos em relação direta com a profissão caiu para 46, o mais baixo registrado pela RSF em quase 20 anos. O número não ficava abaixo de 50 desde 2003.

“Essa tendência de queda, que vem se acentuando desde 2016, pode ser explicada em parte pela estabilização de conflitos regionais (Síria, Iraque e Iêmen) após 2012 e 2016. No entanto, o número de casos registrados segue elevado. Em média, cerca de um jornalista é morto por semana no mundo”, pondera o relatório.

A grande maioria (91%) dos jornalistas mortos em 2021 eram homens, mas as quatro mulheres mortas (9%) representam a maior proporção de casos em relação aos colegas do sexo oposto desde 2017.

Dos jornalistas mortos, ao menos dois terços foram deliberadamente executados, incluindo as quatro mulheres mencionadas e 26 homens. A RSF aponta que, embora a proporção de execuções seja menor que a de 2020 (85%), está acima da média dos últimos cinco anos.

“A cada cinco jornalistas, três foram mortos em países que não estão oficialmente em guerra, e até mesmo a região do mundo considerada a mais segura para o exercício do jornalismo, a União Europeia, foi afetada”, diz a RSF, citando como exemplo o jornalista holandês Peter R. de Vries.

Os cinco países mais perigosos para jornalistas no mundo em 2021 foram México, onde sete jornalistas foram assassinados; Afeganistão (6); Índia (4); Iêmen (4); e Paquistão (3).

No Afeganistão, onde o Talibã assumiu o poder em agosto, a maioria dos seis jornalistas mortos foram vítimas de ataques do grupo “Estado Islâmico” ou dos próprios talibãs. Devido à impunidade, o Afeganistão já era perigoso para jornalistas mesmo antes da volta do Talibã ao poder, tendo 47 profissionais sido mortos nos últimos cinco anos. O país lidera o ranking, ao lado do México. A Síria aparece em seguida, com 42 jornalistas mortos em cinco anos.

lf/as (AFP, DW, ots)

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