Maiara Muraro, Três Emes de Mulher, Bem Blogado
Tive uma conversa profunda essa manhã que me gerou reflexão sobre o atual cenário político e a ideologia esquerdista que se perdeu diante dele.
Todo sabemos que o Bolsonaro estar no poder foi resultado de uma eleição democrática. Mas no fundo todos sabemos também que isso teve uma responsabilidade da separação de votos da própria esquerda, que para alimentar o próprio ego foi incapaz de se unir desde o início para evitar a catástrofe. Sim, é difícil assumir mas existe uma responsabilidade coletiva sobre o atual momento. E isso não dá para ser apagado.
Mas sigamos na reflexão. A esquerda hoje – lado que me considero na estrutura política do Brasil – é formada por mentes pensantes que buscam diminuir desigualdades sociais instauradas na nossa complexidade. Mas também é um nicho que debate sobre privilégios e minorias.
Sabemos que é necessário mudar culturas para diminuir desigualdade. Sabemos disso. E isso é essencial. Mas até que ponto estamos usando nossa crise identitária para inflar nosso ego?
Se você não faz parte de todas as minorias você não é de esquerda? Quantas críticas estereotipadas foram feitas para se classificar quem é ou não de esquerda?
Minorias precisam ser debatidas, mas não podemos esquecer que somos mentes pensantes capazes de estimular pessoas e com responsabilidade de lutar por quem tem menos instrução que nós.
Ser de esquerda não é um estereótipo. Não importa sua raça, sua classe, seu sexo ou sua opção sexual. Importa sua visão de mundo além da sua bolha e seu desejo de fazer política por aqueles que ali não podem estar.
A gente precisa perder menos tempo criticando pejorativamente quem tá do nosso lado e mais tempo encontrando soluções estratégicas de se unir para retirar do poder quem massacra todxs nós.
Em 2018 vimos uma esquerda segregada. E se você votou no Ciro no primeiro turno você foi provavelmente criticado. Mas talvez essa não teria sido a única solução antibolsonaro?
Ou será que a esquerda busca um estereótipo perfeito para aguçar seu próprio ego mais do que lutar contra um governo autoritário?
Em 2020, vemos a fala (quem não viu, leia) de Marcelo Freixo deixando claro sua não candidatura à prefeitura do RJ. O motivo? “Não é hora de me ausentar de onde estou. Precisamos somar poder e não retirar espaços já ocupados”.
O discurso da esquerda precisa mudar não só na esfera política mas também na esfera social. Enquanto perdermos tempo criticando quem é mais de esquerda do que o outro, seguimos abrindo brecha para que se instaure nas nossas fraquezas políticas de poder.
Não temos, nem devemos deixar de discutir nossas questões ideológicas, mas elas não podem se tornar ferramenta de ódio. Isso é o que ELES fazem.
Se quisermos mesmo lutar por um mundo melhor, deixar nosso egocentrismo de lado é o primeiro grande – e antigo – passo. Tá na hora de voltar duas casas para avançar algumas posteriormente.