Por Jari da Rocha, para O Tijolaço –
Até agora ninguém sabe explicar o que aconteceu, de fato, no aeroporto de Congonhas, na sexta-feira da vergonha, dia 4 de março.
Mas o vídeo que coloco ao final do post dá sinais do que se planejava e para quem iam os “vazamentos” da turma da “República de Sérgio Moro”.
Bolsonaro e sua turma, na manhã de sexta-feira, convocando para um “foguetaço” na Polícia Federal de Curitiba para saudar a chegada de Lula, preso.
Bem sintonizado com as intenções de propaganda e desmoralização.
Quem leu as “considerações sobre a Mani Pulite” de Moro e acompanha a trajetória desta cruzada, não há mais dúvidas sobre os reais objetivos.
“(…) uma das mais impressionantes cruzadas judiciárias contra a corrupção política e administrativa.” (Moro, 2004)
Tal devaneio se vê ao vivo e em cores, numa operação dissimulada e sem qualquer indício de escrúpulos, para eliminar todo e qualquer obstáculo que atrapalhe a mafiosa turma de voltar ao poder.
Moro apresenta uma visão fantasiosa do que seria o combate à corrupção no Brasil, com base, na operação Mãos Limpas italiana.
Na verdade, seria quase perfeita se fosse aplicado aos políticos envolvidos no roubo de merenda escolar, superfaturamento de trens, entrega do patrimônio público, aos donos de contas no exterior e às remessas ilegais para amantes. Seria bem aplicada também, aos políticos que mantém íntimas relações com o tráfico aéreo de drogas.
Moro avalia como viável um tipo de operação no Brasil, como a que combateu a máfia italiana e suas relações com o meio político, a partir da instituição da delação premiada, e, também, dos vazamentos.
Extasiado, ele menciona o sucesso desses vazamentos meticulosos à imprensa italiana. “A Mani Pulite vazava como uma peneira”.
Talvez o conceito de peneira aqui seja outro. Afinal, só determinadas informações vazam, as outras ainda devem ficar retidas, decerto, na peneira.
O processo de vazamento seletivo, como vemos (e como não vemos) foi eficientemente aplicado.
No entanto, é curioso o conceito de ‘opinião pública esclarecida’, que, para ele, é vital para o sucesso de uma operação.
É curioso imaginar alguém esclarecido desconsiderando que parte de uma nota do Instituto Lula fora suprimida. Ou ainda, que uma mansão premiada e abandonada numa praia paradisíaca não tenha dono.
Essa opinião pública esclarecida ia acabar ficando horrorizada com tanta pasta base de cocaína num só helicóptero, caso isso fosse mostrado aos quatro cantos como os pedalinhos do mais famoso sítio da imprensa brasileira.
Talvez aí possa existir uma chave que ajude a desvendar os mistérios da sexta-feira da vergonha: A ideia não seria observar a reação da opinião pública não-esclarecida?
Era um teste?
Uma bravata?
Uma tentativa de enfiar Lula num jatinho e levar para Curitiba só com apoio dos esclarecidos?
A operação foi abortada?
O que deu errado?
O que frustrou a “festinha” convocada pela turma do Bolsonaro no vídeo abaixo?
Se foi um teste para avaliar a opinião pública não-esclarecida (a de quem não se convence com a inexistência de manchetes de corrupção da turma da Avenue Foch e, ao mesmo tempo, com a fixação a cada passo dado por Lula e pelos membros do PT nos últimos 36 anos) então, o tiro saiu pela culatra.
Ou a reação popular deixou dúvidas?
No “Minha Luta” de Moro há um objetivo bem claro: deslegitimar políticos e partidos ( adivinhe quais) para que sejam levados ao mais completo ostracismo.
Interessante que ele releva que o vazio, deixado na política, abriu espaço para que “Silvio Berlusconi, magnata da mídia e um dos investigados, hoje (em 2004) ocupa o cargo de primeiro-ministro da Itália.”
Para que a “cruzada” funcione, no entanto:
“Talvez a lição mais importante de todo o episódio seja a de que a ação judicial contra a corrupção só se mostra eficaz com o apoio da democracia. É esta quem define os limites e as possibilidades da ação judicial. Enquanto ela contar com o apoio da opinião pública, tem condições de avançar e apresentar bons resultados. Se isso não ocorrer, dificilmente encontrará êxito. Por certo, a opinião pública favorável também demanda que a ação judicial alcance bons resultados.” (Moro, 2004)
Opinião pública esclarecida?
O que falta a essa opinião pública esclarecida cheirosa, parece ser justamente esclarecimentos.
Eis o verdadeiro campo de combate: comunicação com a sociedade.