Na revista Time, Lula mostra a face de estadista e exala confiança de que o Brasil tem jeito

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Capa da TIME em maio de 2022, Lula fala sobre guerra da Ucrânia, ONU, crescimento econômico e eleições no Brasil

Por Cintia Alves, compartilhado de Jornal GGN




É destaque nesta quarta-feira, 4 de maio, a capa da revista TIME com o ex-presidente Lula (PT). Sob o título “O segundo ato de Lula”, a revista chama para uma entrevista com o “líder mais popular do Brasil”, que busca retornar à presidência e salvar o País da destruição permanente que ocorre sob o governo Bolsonaro (PL).

Na entrevista, Lula mostra a face do estadista que ganhou o respeito do mundo quando foi presidente, entre 2003 e 2010. A entrevista é marcada também por um tom otimista, com Lula repisando que o Brasil tem jeito e que ele tem bagagem suficiente para resolver os problemas criados desde o golpe em Dilma, em 2016.

Confira os principais pontos da entrevista:

Quando perguntado sobre o retorno à disputa eleitoral após dois mandatos populares, Lula respondeu que deixou a presidência em 2010 sem pensar em ser candidato novamente.

“Entretanto, o que eu estou vendo, doze anos depois, é que tudo aquilo que foi política para beneficiar o povo pobre— todas as políticas de inclusão social, o que nós fizemos para melhorar a qualidade das universidades, das escolas técnicas, melhorar a qualidade do salário, melhorar a qualidade do emprego—, tudo isso foi destruído, desmontado. Porque as pessoas que começaram a ocupar o governo depois que deram o golpe na presidenta Dilma [Rousseff] eram pessoas que tinham o objetivo de destruir todas as conquistas que o povo brasileiro tinha obtido desde 1943.”

O ex-presidente afirmou que sente uma “expectativa de que eu volte a presidir o país porque as pessoas têm boas lembranças do tempo em que eu fui presidente. As pessoas trabalhavam, as pessoas tinham aumento de salário, os reajustes salariais eram acima da inflação. Então eu penso que as pessoas têm saudades disso e as pessoas querem isso melhorado.”

Líder nas pesquisas eleitorais, faltando menos de seis meses para o primeiro turno da eleição de 2022, Lula disse que tem “clareza de que eu posso resolver os problemas [do Brasil]. Eu tenho a certeza de que esses problemas só serão resolvidos quando os pobres estiverem participando da economia, quando os pobres estiverem participando do orçamento, quando os pobres estiverem trabalhando, quando os pobres estiverem comendo. Isso só é possível se você tiver um governo que tenha compromisso com as pessoas mais pobres.”

Quando incitado a rebater a “preocupação” de setores da sociedade com seu retorno à presidência, ele respondeu: “Eu sou o único candidato com quem as pessoas não deveriam ter essa preocupação, porque eu já fui presidente duas vezes. E a gente não discute política econômica antes de ganhar as eleições. Primeiro você precisa ganhar para depois saber com quem você vai compor e o que você vai fazer. Quem tiver dúvida sobre mim olhe o que aconteceu nesse país quando eu fui presidente da República: o crescimento do mercado. O Brasil tinha dois IPOs. No meu governo fizemos 250 IPOs. O Brasil devia 30 bilhões, o Brasil passou a ser credor do FMI, porque emprestamos 15 bilhões. O Brasil não tinha um dólar de reserva internacional, o Brasil tem hoje 370 bilhões de dólares de reserva internacional. […] Então as pessoas precisam ter em conta o seguinte: ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz.”

GUERRA DA UCRÂNIA

As questões sobre a guerra da Ucrânia têm repercutido nas redes sociais e na mídia brasileira nesta quarta. Lula fez críticas à invasão da Rússia no território ucraniano, mas também responsabilizou Volodomyr Zelensky, presidente da Ucrânia, além dos Estados Unidos e OTAN, pela manutenção do conflito.

“Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema”, disse Lula.

Sobre Zelensky, as críticas foram mais extensas: “(…) fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. (…) Eu não conheço o presidente da Ucrânia. Agora, o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. (…) Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação.”

ESTADOS UNIDOS E OTAN

Sobre o presidente dos EUA, Joe Biden, Lula fez elogios ao lançamento do plano econômico, quando o democrata tomou posse após derrotar Donald Trump. Porém, no que tange a guerra da Ucrânia, Lula também não poupou críticas: “E acho que ele não tomou a decisão correta nessa guerra Rússia e Ucrânia. Os Estados Unidos têm um peso muito grande e ele poderia evitar isso, e não estimular.”

Lula ainda disse que se fosse presidente e o Brasil, convidado a participar da OTAN, ele rejeitaria o convite. “Porque eu sou um cara que só pensa em paz. Eu não penso em guerra. […] O Brasil não tem contencioso nem com os Estados Unidos, nem com a China, nem com a Rússia, nem com a Bolívia, nem com a Argentina, nem com o México. E é o fato de o Brasil ser um país de paz que vai lhe fazer restabelecer a relação que nós criamos de 2003 a 2010. O Brasil vai virar protagonista internacional, porque a gente vai provar que é possível ter um mundo melhor.”

PAPEL DA ONU

Lula também defendeu que é preciso “criar uma nova governança mundial” pois a ONU já “não representa mais nada”. “A ONU de hoje não é levada a sério pelos governantes. Porque cada um toma decisão sem respeitar a ONU. O Putin invadiu a Ucrânia de forma unilateral, sem consultar a ONU. Os Estados Unidos costumam invadir os países sem conversar com ninguém e sem respeitar o Conselho de Segurança. Então é preciso que a gente reconstrua a ONU, coloque mais países, envolva mais pessoas. Se a gente fizer isso, a gente começa a melhorar o mundo.”

OTIMISMO

Apesar de ter ficado 580 dias preso em função do caso triplex, da Lava Jato, que em 2021 foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal, Lula diz que não quer fazer um retorno ao poder marcado por rancor. Pelo contrário. “(…) eu fiz muita reflexão, eu me preparei para sair da cadeia sem ódio, sem mágoa, sem ressentimento, apenas lembrando que aquilo foi um processo histórico que eu não posso esquecer. Eu não posso esquecer, mas eu não posso colocar na mesa esse assunto todo dia porque é uma coisa do passado. Eu quero pensar no futuro.”

Lula disse à revista TIME que a política nunca saiu de seu radar. E boa parte de sua motivação em resolver os problemas do País foi herdada da mãe, a dona Lindu, que lhe deu valiosas lições de vida diante das adversidades.

“Para você entender a minha vida, eu fui comer pão pela primeira vez com sete anos de idade. A minha mãe, muitas vezes, não tinha nada para colocar no fogão para fazer comida para a gente. E eu nunca vi minha mãe desesperada. Ela sempre falava o seguinte: ‘Amanhã vai ter. Amanhã vai melhorar’. E isso foi introjetado na minha consciência, no meu sangue, e eu sou assim. Não tem problema que a gente não consiga vencer.”

Leia a entrevista completa, traduzida na TIME por Pâmela Reis, clicando aqui.

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