Publicado no Jornal GGN –
Com a renúncia, Câmara terá de eleger um novo presidente, e opositores denunciam que pode ser alguém que deixe a influência de Cunha penetrar na Casa, ao mesmo tempo em que aprova projetos de interesse de Temer
Jornal GGN – Boa parte dos políticos que consideravam indigesta a permanência de Eduardo Cunha (PMDB) na presidência da Câmara avaliou que é muito cedo para comemorar a renúncia ao cargo, anunciada pelo deputado nesta quinta-feira (7). Em última análise, a decisão faz parte do roteiro traçado por Cunha, com ajuda do interino Michel Temer (PMDB), para não só livrar o parlamentar da cassação, mas também para manter a Câmara sob controle num momento em que Temer trabalha para consolidar o impeachment.
A parceria entre Cunha e Temer, com participação especial de Aécio Neves (PSDB), foi apontada pela imprensa na semana passada. O chamado “acordão” entre os partidos que outrora fizeram oposição ao governo Dilma Rousseff (PT) inclui eleger um novo presidente da Câmara após a renúncia de Cunha. Um nome que deixe a influência do deputado réu na Lava Jato penetrar na Casa, ao mesmo tempo em que garante vitórias para Temer no plenário.
“A renúncia de Eduardo Cunha estava no script”, disse o deputado Jorge Solla (PT). “Derrota ontem na votação do projeto da dívida dos estados deixou claro: Temer perde governabilidade. Próxima etapa é eleger presidente da Câmara aliado a Cunha que faça o jogo que ele fazia, de manobras e golpes para vencer às custas de ameaças”, acrescentou.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) também disparou contra a renúncia de Cunha. “Esta renúncia é parte do imoral acerto entre ele e o usurpador golpista Michel Temer, seu comparsa. É a tentativa de se salvarem. O próximo passo é a eleição de um membro da mesma quadrilha para a presidência da Câmara. Mais um insulto à Justiça brasileira e mais um soco no rosto de nossa nação brasileira”, publicou nas redes sociais.
O deputado Ivan Valente (PSOL) disse que um acordão entre Temer, Cunha e seus aliados “não passará”. “Antes tarde do que nunca! Mas se o Cunha e o Temer acham que com isso não haverá cassação no plenário, acordão não passará”. O correligionário, Chico Alencar, endossou: “É evidente que esta saída de Cunha é uma manobra política. Mas doeu nele. No ego superdimensionado de quem se achava acima de tudo e todos”, disse, referindo-se ao momento em que Cunha chorou ao citar o envolvimento de esposa e filha na Lava Jato.
Próximo passos
O acordão de Temer e Cunha com o PSDB de Aécio Neves – e seus aliados-satélites, como DEM, PPS e PSB – envolve o apoio ao nome escolhido pelo “centrão” – bloco dominado pelo PMDB – para a presidência da Câmara, para um mandato tampão. O favorito é Rogério Rosso (PSD).
A eleição pode se dar já na semana que vem. Em troca, Temer e seus correligionários se comprometem a apoiar um candidato desse bloco liderado pelo PSDB na próxima eleição da Câmara.
Por fora, Cunha espera que seja inserido no acordão a garantia de que o PSDB e demais partidos não trabalharão para cassá-lo no plenário da Casa. Aécio já fez sinal posivito ao pleito, embora parte dos tucanos não veja a ideia com bons olhos