“Nada a temer semão o correr da luta”

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Começo ouvindo “Caçador de Mim”, de 1981, canção de Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá, eternizada na voz do gênio Milton Nascimento, em pleno regime militar. Diz o refrão: “Nada a temer senão o correr da luta | Nada a fazer senão esquecer o medo | Abrir o peito a força, numa procura | Fugir às armadilhas da mata escura (…) Longe se vai sonhando demais | Mas onde se chega assim?”

Por Henri Figueiredo, compartilhado de seu Blog




Multidão de democratas, sob chuva, repudiam atos terroristas e golpistas na Cinelândia, Rio, na noite de 9 de janeiro

Escrevo na manhã de terça-feira, 10 de janeiro de 2023, depois de dois dias intensos acompanhando pelas mídias comerciais, digitais e alternativas de Esquerda os acontecimentos e desdobramentos da tentativa frustrada de golpe de Estado perpetrada por seguidores extremistas de Jair Bolsonaro. Eram oriundos de todos os cantos do país e, em Brasília, vandalizaram os três principais marcos da República: o prédio do STF, o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.

Entre a indignação pelo vandalismo terrorista da massa de manobra (que foi carreada literalmente como gado ao Distrito Federal), com a inédita e veemente condenação midiática de praticamente todos os veículos comerciais, que são a voz dessa entidade chamada “O Mercado”, veio também uma certa euforia pela ‘flopada’ histórica da tentativa de instauração de um novo Estado de Exceção no Brasil – a mais grave tentativa desde a promulgação da Constituição de 1988. De outra parte, li e leio intelectuais a quem respeito profundamente demonstrando um pessimismo que eu diria mais serve para paralisar do que para mobilizar os democratas. Explico: os temerosos consideram que, ao contrário de arrefecer o movimento golpista, as imagens de “demonstração de força bolsonarista” servirão para acirrar mais ainda os ânimos, dividir e incendiar a Nação.Anúnciosabout:blankDENUNCIAR ESTE ANÚNCIO

Data venia, discordo com veemência. Nada a temer senão o correr da luta. Por isso, foi importante o povo democrata, em todas as regiões do Brasil, em dezenas de importantes cidades além das capitais dos Estados da federação, sair às ruas para gritar “Sem anistia!”. O Brasil tem, enfim, a grande oportunidade de acertar as contas com sua própria história. E nunca houve um evento que tivesse o poder de unificar os divergentes, mas democratas, como o que o ocorreu no fatídico domingo 8 de janeiro, dois anos e 2 dias depois da invasão do Capitólio por extremistas trumpistas nos EUA e cuja referência, correlação e articulação internacional é mais que evidente.

Nada a fazer senão esquecer o medo. A hora, companheiros e companheiras, amigues (lidem com a novilíngua de gênero neutro) é enfrentamento duro, diário, constante contra os golpistas. Li de uma amiga de Porto Alegre, Ana Vilk, a seguinte informação, plena de ironia, nas redes: “Moro num condomínio gigante. Fui dormir havia várias janelas com bandeiras do Brasil. Fui contar agora, há três. Devem estar viajando”. O principal âncora do Jornal Nacional chamou os radicais bolsonaristas de “vergonha de suas famílias”. A sociedade cobra exemplar punição, apesar da leniência das polícias bolsonarizadas que permitem presos acusados de terrorismo e golpe de Estado portarem seus celulares como se estivem apenas num refúgio público após uma tragédia natural. As autoridades policiais da União, comandadas pelo ministro da Justiça Flávio Dino, ex-juiz federal, ex-governador do Maranhão (além de ser senador eleito), já rastrearam os financiadores dos ônibus. Começarão as intimações e pedidos de prisões temporários ou preventivas, como ele mesmo informou.

Bem apontou um documento interno da tendência petista Democracia Socialista cujo trecho reproduzo: ““Após nove anos de resistência — iniciada com a ofensiva neoliberal contra o segundo governo Dilma, prosseguida com o governo Temer e aprofundada com o governo Bolsonaro — a vitória democrática e popular com a eleição de Lula inaugura um novo período da luta de classes no Brasil. Repõe em novas condições e com novos (e velhos) desafios a possibilidade da luta pela transformação democrática e socialista no Brasil com amplo impacto internacional.” E é, amigues, esse apoio internacional à Lula e à democracia brasileira, amplamente divulgado pela mídia de todo mundo, é o fiador de que a normalidade democrática será restaurada. Mas não por inércia. Só o povo na rua garantirá o sufocamento, a vergonha, a criminalização do ódio terrorista e o recuo miliciano.Anúnciosabout:blankDENUNCIAR ESTE ANÚNCIO

Temo, de um lado, ter apenas repetido platitudes. Por outro lado, longe se vai sonhando demais. E sonho que se sonha junto, realidade torna-se. Por isso, às ruas. Estejamos atentos e vigilantes. O medo não é mau, em si – nos faz medir os riscos. Neste momento, porém, a coragem se impõe como a caçadores que na mata escura sabem que a besta fera é violenta, mas precisa ser abatida. Fujamos das armadilhas fascistas. Não passarão!

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