A exemplo da pressão indevida que fez sobre o STF em 2018 para impedir a eleição de Lula, o general da extrema direita golpista volta a atacar a democracia
Por Octavio Costa, compartilhado de Ultrajano
O feriadão de 15 de novembro já ia chegando ao fim quando começou a circular nas mídias sociais uma mensagem do general Villas Boas no twitter em apoio às manifestações golpistas em frente a unidades militares. Villas Boas não só inflou o quórum das manifestações, que, segundo ele, movimentam milhões de pessoas, como ressaltou que “a população aglomerada às portas dos quartéis está pedindo socorro às Forças Armadas”.
Em seu texto, o general da extrema direita tenta justificar o pedido de socorro aos militares: os grupos fascistoides que se apropriaram das cores nacionais “protestam contra os atentados à democracia, à independência dos poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o eleitoral”. Aqui cabe uma pergunta mais do que óbvia ao experiente general. Quando e onde aconteceram atentados à democracia e à independência dos Poderes?
Pelo que se tem visto, esses atentados estão ocorrendo diariamente à frente dos quartéis, sob olhar complacente dos comandantes militares. É lá que aparecem faixas e cartazes com ataques aos resultados de uma eleição legítima, que não foi questionada pelos especialistas do Ministério da Defesa. Villas Boas reclama da imprensa por não cobrir as manifestações e defende maior destaque aos atos golpistas. Cá entre nós, a imprensa está certíssima ao não dar espaço a essa gente que não se conforma com a voz legítima das urnas.
Ao pedir a virada de mesa e a intervenção militar, os manifestantes apoiados pelo general Villas Boas querem simplesmente rasgar a Constituição e jogar no lixo o voto majoritário de 60 milhões de brasileiros e brasileiras. Milhões de pessoas deram seu voto ao terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como destacou a Associação Brasileira de Imprensa, endossando palavras do ministro Luís Roberto Barroso, “supremo é o povo, e o povo já se pronunciou, a eleição terminou”.
É o que acontece no Estado Democrático de Direito, quando se respeita o equilíbrio dos Poderes. Mas o general Villas Boas ainda vive no tempo das repúblicas de bananas, quando a solução de divergências políticas se dava por “manu militari”. Com o uso de homens fardados, à base da coerção e do abuso constitucional. Ao fim de seu tortuoso texto, o general tem o desplante de afirmar que as Forças Armadas merecem dos golpistas a confiabilidade de nível mais alto do país. Vale lembrar ao general que os Poderes da República são o Judiciário, o Executivo e o Legislativo.
Com sua mensagem, Villas Boas quer repetir o que fez em 2018 quando, na véspera da decisão do STF que poderia garantir a participação de Lula nas eleições, enviou um recado ameaçador aos ministros do Supremo. O Exército, advertiu ele, não admitiria outra decisão que não a exclusão do petista do processo eleitoral. Diante da intimidação, a maioria do plenário votou contra Lula, em flagrante desrespeito ao Direito. O que foi uma vergonha para a história do STF. Hoje alguns ministros mostram-se arrependidos daquela decisão.
Villas Boas está de volta à cena com seu discurso golpista. Mas desta vez a intimidação não funcionará. Votos de militares não valem mais do que votos de paisanos. A apuração dos votos foi “pública e auditável”. A democracia venceu no dia 30 de outubro. E as Forças Armadas sabem muito bem disso. Não há mais espaço para quarteladas, como as que tentaram impedir a posse de Juscelino e a posse de Jango. A extrema direita perdeu em 1955 e 1961 e voltou a perder agora. Não amola, general Villas Boas!
PS.: Mal acabara de finalizar este texto quando soube da morte prematura da grande Isabel Salgado, craque no vôlei e na vida, que sempre travou o bom combate e se preparava para integrar a equipe de transição nomeada por Lula. Que a a família se sinta confortada!