Não existe educação sem dinheiro’: queda no Ideb de Porto Alegre evidencia precarização do ensino

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Nota da Capital para os anos finais do ensino fundamental teve a maior queda entre municípios da Região Metropolitana

Por Bettina Gehm, compartilhado de Sul 21




Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados na última semana, demonstram que a educação pública em Porto Alegre decaiu em qualidade. No que diz respeito aos anos iniciais do ensino fundamental, o índice foi de 5,2 em 2021 para 4,7 em 2023. Os valores são referentes à rede municipal de ensino.

Os anos finais do ensino fundamental tiveram queda ainda mais acentuada no indicador, que reduziu de 4,8 para 3,8. Essa é a maior queda no índice entre as cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, que abrange 34 municípios.

Para a doutora em educação Natália Gil, docente na Faculdade de Educação da UFRGS e especialista em estudos de quantificação educacional, a gestão pública tem papel importante nesse resultado. “Tanto o governo Marchezan quanto o governo Melo, ao invés de garantirem uma estabilidade para a rede de educação, fizeram o contrário”, afirma a especialista. “Marchezan retirou as reuniões pedagógicas semanais que os professores tinham, e penso que a consequência disso aparece nos números. Faz diferença que os professores possam se organizar entre eles. Não basta estar só em sala de aula”.

Natália também elenca a demora da gestão Marchezan para chamar os professores aprovados em concurso público, além da precarização de carreiras e salários, como fatores que prejudicaram a educação no município. 

Já no governo Melo, o foco do investimento foram materiais pedagógicos – compras que inclusive foram alvo de CPIs e investigações policiais por supostas irregularidades. “Mas os materiais não substituem as pessoas que interagem com as crianças”, diz Natália. 

“Se as gestões Marchezan e Melo retiraram momentos de estudo e de preparação dos professores, negligenciaram a carreira e não fizeram investimentos consistentes, não tem como termos avançado no Ideb. Não existe educação sem dinheiro”, pontua a especialista.

Mas essa conta pode ser ainda mais complexa, já que o desempenho das crianças na escola também está ligado às condições socioeconômicas em que elas estão inseridas. O Ideb é uma média e, portanto, não apresenta uma visão detalhada da realidade de cada bairro dentro das cidades. “Olhar as notas por escola pode indicar, aos gestores, quais bairros precisam de maiores investimentos sociais”, diz Natália. “Se temos uma gestão que não se preocupa com a condição de vida dos moradores, não podemos resolver esse problema na escola” .

O Ideb é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

“O índice é um bom termômetro, mas mostra só um pedaço do processo pedagógico”, ressalta Natália. “A queda não pode ser negligenciada, mas ela não é uma sentença de que as escolas não possam alcançar bons resultados em pouco tempo. As crianças são seres humanos ativos, não há nada que não possa ser redirecionado em curto prazo. O Ideb mostra que está faltando trabalhar a educação com consistência e constância”.

Se comparada à nota nacional, a queda no Ideb em Porto Alegre fica ainda mais significativa. O Brasil alcançou a nota 6 nos primeiros anos do ensino fundamental, no índice que varia de 0 a 10. Nos anos finais do ciclo, a nota alcançada foi 5,5.

“A meta é algo que deveria ser a preocupação de um gestor, mas não é o que deve incomodar a população”, afirma Natália. “A meta vai ser sempre melhor do que o desempenho das crianças. Se a escola tivesse mantido um resultado estável, já seria bom. Mas não atingir a meta não indica que a escola vai mal – é mais preocupante que a nota tenha caído”.

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