Não faça meu neto passar vergonha!

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Por Lygia Jobim, publicado em Carta Maior – 

Sr. Ministro 

Em 1964 meu pai, diplomata de carreira, serviu na Colômbia. Eu, adolescente, passei em Bogotá os dois anos mais felizes de minha vida. Ali estudei e fiz amizades que perduram até hoje.

Durante o período em que morei em seu país natal convivi com pessoas doces, acolhedoras, generosas e naturalmente educadas. A impressão que me ficou, e que se confirmou ao longo dos anos, é que o povo de seu país natal é tão extraordinário quanto o meu.

Há três anos meu filho me deu a imensa alegria de casar com uma colombiana, que aqui fazia seu curso de mestrado em arquitetura paisagística. Um ano depois ganhei um neto cujo sangue é uma mistura de dois países aos quais amo e admiro – Brasil e Colômbia. Ter um neto com sangue colombiano é para mim motivo de alegria e de orgulho. Com isso passamos a formar todos nós, os que aqui moramos e os que moram em Medellín, uma grande família colombocarioca, como a chamamos.




No entanto, seu comportamento destemperado e grosseiro, bem como as ideias que o senhor defende, não estão à altura de uma pessoa que tem sua origem naquele país. Por motivo que desconheço o senhor optou por vir morar no Brasil, renegar sua antiga nacionalidade e aqui se estabelecer definitivamente, a ponto de se naturalizar. Ora, ninguém toma uma atitude dessas sem antes pensar bem no que está fazendo e nas características do povo do qual se tornará parte.

Antes de querer impor em nossas escolas a educação moral e cívica, sob o pretexto de que essa matéria dá educação, aprenda o senhor a ser educado. Antes de querer retirar de nossos jovens, através do estudo de uma gama variada de autores, com pensamentos diversos, a possibilidade de aprender a pensar, abra seu pensamento para tentar enriquecê-lo nem que seja um pouco. Sua estreiteza mental não cai bem num ministro que tem a responsabilidade de formar o futuro. Sim, porque é isso que a educação faz. E não é com filosofia rasteira que se forma um futuro digno.

Chamar os brasileiros de canibais, ladrões e defender que só uma pequena parcela da população tem direito a ensino superior, não é digno de quem um dia foi colombiano. Com isso o senhor não só nos prejudica e ofende como prejudica e ofende a Colômbia como um todo. O que ficará marcado é que um colombiano, do alto de sua posição de ministro, nos tratou desta forma. Tenha compostura, Sr. Ministro. O senhor não deve desculpas apenas aos brasileiros, deve desculpas aos colombianos que correm o risco de ser confundidos com o senhor.

Lygia Jobim é advogada e jornalista . Participa da Plenária Memória, Verdade e Justiça cujo objetivo é não deixar a memória da ditadura se apagar e que denuncia a violência do passado e do presente. Foi presidente do Conselho da ABI.

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