Por Graça Lago, jornalista –
Como dizer a meus filhos e neta que estamos no meio de uma guerra, ainda que sem os estampidos que se reconhecem de guerra?
Como dizer que essa escassez vai se espalhar e se agravar a cada alvorecer de cada dia desses tempos de guerra?
Como ensiná-los a poupar o que não se poupa?
Como ensiná-los, no calor dessa batalha, a conter desejos, ímpetos, apetites?
Como fazê-los entender que é preciso minguar, ser menos?
Como fazê-los entender que a nossa sobrevivência está reduzida à matemática dos pequenos víveres de um cotidiano cada vez mais esmigalhado pelas necessidades cotidianas, que explode nos carrinhos de compra, nas prescrições médicas, nos impostos devidos, na impossibilidade, na falta de horizonte, no preço do papel higiênico para limpar as bundas da nação?
Não fomos preparados para essa guerra não declarada que nos encurrala e avassala.
Essa é uma guerra que contamina os nossos pequenos dias sem saída, sem saída, apenas sem saída, nos quais vamos minguando.
Não aprendemos ou não ensinamos o despojamento e a solidariedade mínimos que podem nos fortalecer.
A classe média se esvai sem nem tanger o paraíso.