Não há crise no mundo da orquidofilia

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Por Adriana do Amaral, jornalista

Todos os finais de semana, em algum lugar do Brasil, acontece uma exposição -ou feira- de orquídeas, em geral organizada por uma associação orquidófila oficial. Elas atraem colecionadores, orquidicultores ou admiradores do Brasil e dependendo do porte do evento pessoas de outros países. Dos grandes conhecedores e introdutores da técnica de cultivo aos compradores ocasionais.




Também é um negócio lucrativo, pois uma planta pode custar milhares de reais! Um corte (pedaço/muda) algumas centenas de reais. Algumas delas não são vendidas sequer por uma fortuna, mas quando a paixão fala mais alto escambos eventuais são praticados.

As exposições de orquídeas também fomentam a indústria do turismo, que após dois anos de pandemia voltou com um público ávido por novidades e negócios. Isso faz com que paralelamente à exposição sempre haja uma seção de vendas de orquídeas e insumos. O valor do aluguel dos estandes é usado para custear as despesas com a exposição, que não são nada acessíveis.

Dentre as mais importantes exposições do calendário anual da CAOB -Coordenadoria das Associações Orquidófilas do Brasil-, a exposição realizada na cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo, é organizada pelo Círculo RioClarense de Orquidófilos. Atualmente a CAOB reúne 146 entidades profissionais, autônomas e amadoras de todo o país.

Neste ano, 15 mil pessoas admiraram as orquídeas selecionadas por aproximadamente 1400 expositores, vindos de 46 cidades dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, São Paulo dentre outros.  Além de olhar as raridades de perto, muitas delas também visitaram outras atividades envolvendo orquidofilia em eventos paralelos, por exemplo em orquidários que são abertos para visitação.

Troca de conhecimento e gentilezas

Durante as exposições há muita troca de conhecimento e saberes. Afinal, os orquidófilos se conhecem e se reconhecem, e no amor à orquidofilia não cabem ciúmes nem segredos.

É um lugar onde há muita generosidade: sempre uma conversa solta, que muitas vezes acaba num convite para outro evento ou visita ao orquidário do colecionador. Neles, negócios também são firmados, mas como regra geral há troca de saberes, técnicas de cultivo, informações sobre plantas, compartilhamento de histórias pessoais e da orquidofilia brasileira.

Numa conversa informal com um colecionador, que visitava a exposição de Rio Claro, ele relatou-me como o cultivo da planta vai se enraizando no dia a dia, na vida das pessoas:

“O colecionador que me introduziu no mundo das orquídeas é apaixonado por Labiatas (Cattleya Labiata Lindl). Logo após o primeiro novembro, mês das Purpuratas (Laelia Purpurata Lindl & Paxton), criei um carinho especial por estas. Então, ficou algo assim como Beatles e Rolling Stones: Laelia Purpurata e Cattleya Labiata.”

“Foi numa exposição de Rio Claro que fiquei sabendo que o “rock das orquídeas” tinha muito mais do que Beatles e Rolling Stones, mas também Pink Floyd, Led Zepellin, The Who e tantos outros. Foi quando conheci as tri Bolivarianas: a Trianae Bolivariana Trianae (Cattleya Trianae (Lind. & Rchb.), a Lueddemanniana (Cattleya Lueddemanniana Rchb.f. ) e a Percivaliana               (Cattleya Percivaliana O’Brie ).”

Ele também me orientou sobre o formato das exposições:

“Uma exposição de orquídeas representa o indivíduo através de uma associação. As plantas são dispostas respeitando-se o espaço destinado a cada associação. Pode parecer estranho que todas as trianaes ou percivalianas não sejam expostas juntas, pois as plantas não são dispostas respeitando o gênero.“

“Depois de todo o recinto pronto, a exposição montada, cabe aos juízes avaliarem e decidirem sobre as premiações. Uma tarefa árdua e complicada. Isso porque como as plantas não estão juntas, ao se julgar cada categoria eles têm de se locomover praticamente por toda a exposição, analisando planta por planta dento do espaço de cada associação.”

Preciosidades

O valor de uma exposição de orquídeas é incalculável. Muitas vezes, as plantas são raras, únicas, mas principalmente são testemunhos históricos. No passado, no Brasil, os orquidófilos enfrentavam verdadeiras aventuras exploratórias para localizar, identificar e adquirir uma planta, sobretudo espécies. Também há muita cultura e valor envolvido no cultivo de cada planta, que sinalizam épocas, costumes locais e até certo conhecimento de botânica e latim.

Cabe aos organizadores das exposições zelarem por cada uma entre orquídeas expostas. Imaginem a responsabilidade! O diretor da exposição, Antonio Carlos do Amaral conta que é uma logística complexa preparar um evento, tal a fragilidade e singularidade das orquídeas.

Proprietário do orquidário Caciara e integrante do Círculo Rioclarense de Orquidófilos, ele conta que a paixão pelas orquídeas é muito mais do que um hobbie ou negócio, mas um vício. Segundo ele, cada um tem um motivo e momento para se encantar com esse universo tão diverso. “Eu me encantei por uma “chuva de ouro” me apresentada pelo meu avô, quando tinha 12 anos. Hoje, coleciono Walkerianas. “, relatou.

Ele conta que cada um tem um motivo particular para cultivar orquídeas. “Há quem goste da cor das formas, do toque, do perfume…”, relata. Esse ano, expôs sua Cattleya Walkeriana F. Alba Caciara Amaral, e ganhou o terceiro lugar da categoria VII.

E, se antes a orquidofilia era um segmento predominantemente masculino, cada vez mais tem crescido o número de mulheres colecionadoras. O cultivo não é fácil, dado à diversidade das espécies e híbridos que requerem cuidados e conhecimento peculiares. No entanto, é uma prática que cresce até mesmo nos ambientes urbanos.

Antonio Carlos do Amaral, diretor de exposição em Rio Claro

Fotos: Rubens Gazeta

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