Não, Lula não defendeu Thatcher e Reagan

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Interpretação de texto é difícil para quem não quer entender as coisas

Por Yuri Ferreira, compartilhado de Fórum




entrevista do presidente Lula à revista New Yorker, publicada nesta quinta-feira (8), é uma verdadeira aula para quem quer entender o pragmatismo que orienta a política internacional do atual governo.

Mas, como de costume, um setor da esquerda mais apressada (e, muitas vezes, mal-intencionada) escolheu recortar uma única frase para transformar a nuance em escândalo. A frase em questão:

“Sou de uma geração que aprendeu nos anos 80, com Reagan e Thatcher, que o melhor para o mundo era a globalização e o livre comércio. Os produtos deveriam circular livremente pelo mundo. O dinheiro também.”

Pronto. Bastou isso para as redes sociais entrarem em chamas. “Lula é neoliberal!”, “Lula está elogiando Thatcher e Reagan!”, “O líder da esquerda brasileira se rendeu ao capitalismo!”, disseram, em coro, os indignados de sempre.

Mas basta um pouco de honestidade intelectual — ou, no mínimo, leitura atenta — para entender que Lula não estava elogiando ninguém. Pelo contrário: o trecho fazia parte de uma crítica explícita à hipocrisia do Ocidente diante da ascensão da China.

Logo depois da frase polêmica, Lula explicou:

“A China começou a produzir tudo o que era feito nos EUA e na Europa. Não se podia comprar uma calça, sapato ou camisa sem a etiqueta ‘Made in China’. Eles copiaram tudo com muita habilidade e aprenderam a produzir tão bem ou melhor. Agora que se tornaram competitivos, viraram inimigos do mundo”, descreve a New Yorker.

Em tom indignado, Lula completou:

“E não aceitamos isso. Não aceitamos a ideia de uma nova Guerra Fria. Aceitamos que, quanto mais semelhantes os países forem — tecnologicamente e militarmente —, mais terão que dialogar, porque não sei se o planeta aguenta uma Terceira Guerra Mundial.”

Lula, um crítico histórico do neoliberalismo dos anos 1980, não estava rendendo tributo a Reagan ou Thatcher. Estava, sim, apontando a ironia de ver os países que um dia celebraram a globalização agora demonizarem aqueles que melhor souberam aproveitá-la.

A fala descontextualizada realiza o sonho quase erótico de uma parte da esquerda que tenta pintar o maior líder de esquerda da história do Brasil como um traidor de classe neoliberal. Um sonho molhado de purismo ideológico.

Criticar o governo Lula por suas escolhas econômicas, decisões políticas ou até por acordos comerciais como o Mercosul-UE faz parte. Retirar frases de contexto para encaixá-las em seu desejo é tática do outro lado.

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